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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

DISCURSO DE FORMATURA


DISCURSO DE FORMATURA[1]
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Boa noite! Saúdo a mesa e, ao fazê-lo, saúdo a todos aqui presentes. Findo não apenas “mais um”, mas “o” ano letivo. O tempo não se repete, da mesma forma que um ano jamais foi, é ou será como outro. Os formandos de hoje são únicos, singulares, especiais... Longe de ser piegas, confesso já sentir saudade de cada um de vocês. Ao partirem, levarão não um, mas vários “pedaços” deste velho professor. Talvez por isso, certo desconforto na alma. Espécie de melancolia, meio que um vazio existencial, quiçá só comparável ao sentimento de “perda” da mãe ao lançar o próprio filho ao mundo. Ficará bem? Quem cuidará dele? Quem o alimentará, vestirá, acalentará? Pouco adianta lembrá-la ser o filho homem já feito, com barba na cara e tudo! Mãe é mãe, assim como professor é professor. Para onde irão nossos formandos? Qual o futuro preparado pelo destino, se é que este existe? Trilharão o caminho acadêmico, do trabalho ou de ambos? Enveredarão para o campo das “exatas” ou das “humanas”? Optarão pela graduação ou curso técnico? Tudo isso importa, porém é pouco comparado à maior dúvida: serão felizes? Saberão fazer uso das ferramentas por nós dadas? Serão capazes de discernirem entre o que é bom e o que não é?  Estarão aptos a enfrentarem os riscos da “selva” reservados pela vida? Lembrarão dos nossos ensinamentos? Farão frutificar os valores por nós disseminados? Cada um de vocês é produto de muito investimento, não apenas econômico ou temporal, mas, sobretudo, afetivo. Investimento este caro, afinal nasce junto ao que há de mais precioso: o coração. Daí a ligação umbilical professor-aluno, relação esta forjada no tempo, aprofundada em cada pergunta, resposta ou até mesmo no próprio silêncio. Pai que ama, conhece. Desnecessário é lembrar o quanto o professor os conhece. Este é “aplicado”. Aquele, “malandro”. Este é “introvertido”. Aquele, “expansivo”. Cada qual com suas qualidades, o que os torna únicos. Diferentes entre si, mas amados, mesmo – e, talvez, principalmente – os mais “rebeldes”. O ano está chegando ao ocaso. Lembrarão os formandos – daqui a dez, vinte ou trinta anos – deste professor? Difícil dizer. Contudo, assim como a mãe jamais esquece o filho nascido do ventre, serão vocês eternamente lembrados por este singelo aprendiz. Pouco tenho a reclamar comparado ao que preciso agradecer. Obrigado pela paciência, carinho, acolhida, amizade. Obrigado, ainda, pela condescendência frente às minhas inúmeras falhas. Obrigado aos colegas de profissão pelo belo trabalho ao longo da jornada. Obrigado aos pais e responsáveis de cada um dos formandos, pois a vitória destes é, também, de vocês. Louvo a Deus pela vida de cada um e de cada uma, desejando muita paz, saúde e prosperidade. Muito obrigado!

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[1] Texto em homenagem às Turmas 31, 32 e 33 de 2013. 

DIA DO "TROCA" !


DIA DO “TROCA”!
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                Meu Deus, o que fora aquilo? Mais parecia pesadelo. Nunca vira “mulheres” tão feias. Desfiguradas pelo excesso de batom e blush, eram de arrepiar. Nem a pior das sogras, por mais mal amada que fosse, se compararia “aquilo”. Desesperador. Mais pareciam personagens daqueles filmes de terror. Por melhor que fosse a intenção daquelas figuras, com todas aquelas poses por elas tidas como sensuais, era o verdadeiro quadro da dor. Simplesmente horríveis. Uma pior do que a outra. Rebolavam daqui e dali, olhavam de soslaio, faziam caretas, “zoinhos” e “beicinhos”, tudo para chamarem atenção. Não por acaso, não foram poucos os olhares direcionados para a sacada do Prédio Dois, onde se formou uma espécie de “gaiola das loucas”, com um grupo de disparatados “travestis” de ocasião. Guris vestidos de gurias e vice-versa. Verdadeiro deus-nos-acuda. Ao som de “I Am What I Am”, alguns formandos fizeram do espaço uma discoteca improvisada, sob o olhar atônito dos mais novos. Duvidasse, naquele momento, até o corpo – ou o que sobrara dele! – do velho Monsenhor teria se revolvido. Ao contrário de uma que outra beata desconhecedora do “espírito” daquele momento, a maioria demonstrara aprovação. Até mesmo alguns professores, disfarçadamente, pareciam seduzidos pela música a embalar os movimentos da gurizada do Terceirão. Pezinho p’rá cá, pezinho p’rá lá, no íntimo, queriam gozar daquela liberdade. Os alunos haviam caprichado no look. Os guris enfiados naquelas saias, vestidos e bustiês, enquanto as gurias lançavam mão da “indumentária” masculina. Enquanto elas representavam jogadores de futebol ou “magrinhos” com as calças caídas próximas aos joelhos, os guris – em quase sua totalidade – trouxeram o que há de mais escandaloso dos bordéis e meretrícios do centro da cidade. A criatividade correra solta naquela manhã. Inesquecível. Algo para ficar na memória da escola encravada na Zona Norte da capital gaudéria. Uma leva de alunos e alunas que deixarão saudade. Histórias que foram sendo forjadas, também, em meio às salas de aula, à cantina, ao pátio, aos ginásios, aos corredores e, para alguns é verdade, à Disciplina... Mesmo estes últimos, por certo, cresceram e nos fizeram crescer. Afinal, ser “humano” é ser “devir”, eternamente “incompleto” e “complexo”, mas essencialmente “pronto”, pois imagem e semelhança do Criador. Basta estar vivo para poder ser amado, deixar-se amar e, de preferência, também amar. Pode haver melhor espaço do que a escola, além da família, para o exercício do amor, da gratidão e do respeito? Na escola criamos, recriamos e somos recriados. Formamos e somos formados. Ensinamos e aprendemos. É ela espaço privilegiado de humanização, de resgate ou até mesmo de “fundação” do sentido da vida. Exceto o olhar dos bons pais, nada se iguala ao cuidar do mestre que educa com carinho. O que será de nossos queridos formandos? Somente o tempo dirá. Entretanto, tempo como o que se foi ou que é, acreditem, jamais será. Por isso, aproveitem! O dia do “troca” mais do que simbólico ou ritualístico, é o extravasamento de uma alegria contida, alegria esta que, nós professores, queremos compartilhar. Parabéns a todos os formandos do Instituto de Educação São Francisco.   

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sábado, 16 de novembro de 2013

PARTIDOS E PORNOGRAFIA


PARTIDOS E PORNOGRAFIA
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Desde já, perdão pela analogia. Bem sei que ninguém gosta de ser comparado à classe política que ronda os espaços públicos deste país. Contudo, é inevitável lembrar, quando dos discursos político-partidários, dos filmes pornôs. O que ambos têm em comum? A absoluta e total falta de criatividade. São sempre as mesmas falas. Por vezes, nos filmes pornôs, o que dá uma mudadinha é o cenário, a cama redonda é substituída pela retangular ou, então, o parceiro deixa de ser um homem para ser um cavalo. Nada que altere a “alma artística” da obra. Nos discursos partidários, da mesma forma. Muda a bandeira, a legenda, mas – como diria uma velha propaganda – a “voz” continua a mesma. O discurso ou é centrado na defesa do injustificável ou, no caso da oposição de ocasião, é pautado na crítica cega e hipócrita à gestão adversária. Neste último caso, condena o que ainda ontem fizera ou logo ali adiante o fará. Adora atirar pedra, esquecendo a fragilidade da própria casa. Partidos e filmes pornôs, como se vê, têm muito em comum. É bem verdade que se diga, para que se faça justiça, que os filmes pornôs são mais respeitosos do que os partidos. Estes, sequer respeitam o horário nobre da televisão, ao contrário dos primeiros. Sem falar, é claro, no vocabulário. Enquanto os pornôs são monossilábicos, os partidos políticos ofendem o bom português. Quanto ao elenco, os filmes pornôs não o esconde, o põe desnudo por completo. Nada encobrem, nem mesmo – quem sabe – o que deveriam. Já os partidos, tomados de um cinismo mal disfarçado, parecem brincar de esconde-esconde. Trazem a público apenas parte de seus “quadros”, enquanto a outra parte – formada, muitas vezes, por uma interminável lista de larápios, quadrilheiros, fraudulentos, mentirosos, ímprobos, sonegadores, etc. – fica à sombra, feito ratos a infestarem os porões da República. A impressão causada pelos partidos neste país é inigualável. Os filmes pornôs, comparados às agremiações partidárias, mais parecem arte sacra. Enquanto na pornografia em questão prepondera o prazer mundano, mas aceitável, na prática partidária vigora a perdulária lógica da tirania travestida de democracia. Os filmes pornôs são prazerosos para quem os faz e para quem os assiste. Os discursos político-partidários são, por sua vez, verdadeiro atentado à inteligência e paciência de quem os vê e escuta. Talvez, por isso, “obrigatórios”, pois que do contrário poucos se renderiam à lábia (ou falta dela!) enganosa e frágil, por vezes mal ensaiada, daquela gente. Mais convencem os gemidos “cinematográficos” dos filmes pornôs do que as “belas” palavras dos nobres legisladores, gestores e aspirantes. Sereia por sereia, é preferível o canto das peladas ao das trajadas, pois que o primeiro soa mais real, verdadeiro e humano.


terça-feira, 12 de novembro de 2013

PINÓQUIO: A MALDIÇÃO DO NARIZ


PINÓQUIO: A MALDIÇÃO DO NARIZ
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br




                Porto Alegre está debaixo d’água. O Sertão nordestino vive a maior estiagem dos últimos cinquenta anos. Os serviços públicos vão de mal a pior, comprovando a conhecida teoria de que nada pode ser tão ruim que não possa piorar. Malversação de recursos públicos, corrupção, criminalidade, ajeitamentos políticos, impunidade, precariedade dos hospitais e postos de saúde, pífia qualidade do ensino (principalmente público), privatização das riquezas nacionais e socialização dos prejuízos da iniciativa privada, corporativismo doentio e irresponsável, falta de celeridade do Judiciário, confusão entre os interesses público e privado, encampação político-eleitoreira dos órgãos e conselhos de controle social, falência do transporte público, superfaturamentos, preponderância da indicação política sobre a competência técnica para ocupação de postos essenciais da Administração Pública, endividamento público, juros abusivos, lucros exorbitantes de alguns poucos grupos econômicos, carga tributária insana e sem a contraprestação mínima exigida, desmanche das rodovias e ferrovias, falta de investimentos em fontes alternativas de energia, flagrante especulação imobiliária... A lista, sabemos todos, não para por aqui. É longa, cara e complexa. Todavia, não é o que noticia a propaganda oficial e nem tampouco pregam os marqueteiros pagos a preço de ouro. Para o Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário), está tudo bem. Independentemente da bandeira partidária ou do matiz ideológico – se é que este existe –, quem está no poder (e com ele se confunde) parece desconhecer o país. Talvez se refiram a outro Brasil. O discurso de quem é “situação” só se aproxima da ótica do homem médio quando na condição de “oposição”. Ainda assim não convence, pois, via de regra, se mostra incapaz de superar as próprias contradições. Condena aqui o que opera ali adiante. Parece maldição. Faz lembrar o nariz do Pinóquio. É mentir, o nariz cresce. Assim tem sido o Estado brasileiro. Arrota números astronômicos, na casa dos milhões e dos bilhões, incompreensíveis para nós, simples mortais. Tudo para tentar justificar o injustificável. O verdadeiro e crível investimento não é o das planilhas frias dos burocratas que infestam os corredores e gabinetes. Como Tomé, devemos acreditar no que vemos. O que vemos, quase nada tem de bom. Políticas públicas dizem respeito às ações concretas que se materializam em forma de serviços de boa qualidade. O resto é balela, conversa para boi dormir. Talvez, por isso, sejamos tratados como gado, prontos para o matadouro. O Estado arranca nossa pele e suga nosso sangue. Triste e inaceitável sina. Nascemos e morremos de forma quase igual, nos corredores apertados e sujos que nem de perto lembram um hospital, onde a morfina – quando não em falta –, tal qual o arcabouço jurídico, pouco mais faz do que engambelar a dor. O discurso estatal, em todas as esferas e em todos os “Poderes” constituídos, se mostra dissociado do mundo real. Não por acaso, o nariz do boneco de madeira segue crescendo, crescendo, crescendo... Incômoda e desconfortável a situação do Estado. Até mesmo a velha “política do pão e circo” parece falhar. A Copa do Mundo de 2014, por exemplo, tem deixado, cada vez mais, de ser uma “expectativa” para se tornar uma enorme frustração e grande dor de cabeça. O nariz de Pinóquio, ao que parece, cresceu em demasia. As fissuras, dia após dia, crescem. Os movimentos populares, a indignação vindo das ruas, o crescimento da intolerância (não seria da impaciência?) são, muito provavelmente, emblemáticos sinais de que o nariz está com seus dias contados. O Brasil que se quer não é o dos discursos vazios e oportunistas, nem tampouco das cifras a preencherem incontáveis casas. O país que se quer é um Brasil onde o Estado exista para servir e não ser servido, um país onde saúde, educação, segurança, transporte e saneamento básico, por exemplo, venham ao encontro da qualidade que cada um e todos merecemos. Queremos um Estado de verdade, real, capaz de promover a justiça social e de restabelecer a esperança há muito tempo perdida (já a tivemos?). Desejamos um país onde Pinóquio seja tão somente o eterno menino de Gepeto. 

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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A PROVA (2)


A PROVA (2)
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br




                Final de mais um ano letivo. Alunos em polvorosa. Lembram um navio a naufragar. Nele, se vê de tudo, desde aquele a enxergar a tão falada luz ao fundo, como o que, precavidamente, constrói seu próprio bote salva-vidas. Tem, ainda, o grupo dos que transitam entre os extremos. Nem oito e nem oitenta. Tipo o náufrago com água pelo pescoço. Reza para todos os santos por um banquinho de areia, capaz de garantir-lhe algum fôlego. “Ano que vem será diferente”, prometem a si mesmos. Contudo, entra e sai ano, é sempre a mesma coisa. Fossem os santos vingativos (dizem que alguns têm memória curta...), tais alunos estariam em maus lençóis. Novembro é prenúncio não apenas do verão, mas da temida Recuperação de final de ano. Enquanto uma minoria conta os dias para as merecidas férias, coroando um ano letivo recheado de boas notas e conceitos, a maioria conta as “moedinhas”, torcendo para que alguns “centavos” caiam do céu. Dão a vida por um ou, até mesmo, meio “pontinho”. Parecem acreditar que, como num passe de mágica, aprenderão a nadar. Habilidade esta que, muitas vezes, propositada e irresponsavelmente, não fizeram a menor questão de aprender. Todas aquelas horas de treinamento, estudo e preleções pareciam demasiadamente chatas e desnecessárias. Agora, frente ao mar revolto e à distância da praia, os náufragos se ressentem das lições não apreendidas e não feitas. À medida que se avizinha a tragédia, muitos desses alunos demonstram certa crise de consciência. Por que aquela conversa paralela, enquanto o professor se estrebuchava lá na frente? Por que aquela atividade não feita ou entregue intempestivamente? Por que a desobediência às orientações mais elementares? Dizem que quando a morte se aproxima, passa como que um filme na cabeça do moribundo. Pois é... Mais ou menos assim na cabeça do aluno perante o cadafalso. Tarde demais, talvez. Quem sabe, reste um último suspiro. O desespero parece aumentar ao ver o olhar piedoso dos poucos colegas que “tiraram de letra” o ano. Enquanto estes usavam horas de sono e lazer preparando a “arca” que os livrasse do dilúvio típico e desesperador do término de ano, o aluno incauto prodigiosamente esbanjara seu tempo em fogosos prazeres. Chegara, todavia, a hora da ceifa. O que diria o professor? Resolvesse este dar, mais ainda, aos que têm e tirar do que não tem, jazeria o “filho desobediente” no mais profundo inferno astral. Entretanto, como bom pai, o mestre não se cansa de oportunizar mais uma, entre tantas outras, chance. Por alguns, chamada de amor ou de perdão. Para os pedagogos, simplesmente Prova de Recuperação. O nome, convenhamos, pouco importa. O que, de fato, conta, é a intenção. Esta, porém, para que não seja estéril, exige reciprocidade. Assim, queridos alunos, aproveitem cada momento e oportunidade para aprenderem e provarem, principalmente para si mesmos, de que são capazes de superarem as dificuldades, por maiores que sejam. 

sábado, 9 de novembro de 2013

BOAS IDEIAS


BOAS IDEIAS
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br




                Boas ideias são como espermatozoides, a maioria não é aproveitada. Poucas são as que fecundam e chegam, digamos... a um destino. Este, na verdade, quase sempre é mais ponto de partida do que de chegada. A boa ideia, quando se materializa, logo passa a exigir outra boa ideia, depois outra e mais outra... Bem aventurados aqueles que conseguem ter boas ideias gêmeas. Os que têm trigêmeas viram lenda. Mais do que isso, convenhamos, é pura ficção. As boas ideias são como estrelas cadentes, quando pensamos em fixar o olhar, onde estão? Somem, como que num passe de mágica. Ficamos nós, meio embasbacados, a nos perguntar: teria sido um sonho? As boas ideias, normalmente, não se deixam fotografar. São meteóricas e, em regra, nada fotogênicas. Feito prenda bonita, é descuidar, ficamos a dançar sozinhos no meio do salão. Daí a importância de sermos ligeiros, do contrário outro as toma pelo braço, como sendo suas, enquanto para nós resta tão-somente aquele sentimento de raiva e de uma inveja mal disfarçada. Boas ideias não devem passar de largo. É vê-las se distanciando, lacemo-las. Talvez corcoveiem, pulem daqui e dali, mas como lindos corcéis multicoloridos – ideias, as temos de todas as cores, tamanhos e jeitos –, logo vão se deixando domar. Sensação indescritível, nós, tão pequenos, montados sobre grandes ideias. Estas, numa demonstração de humildade e de aparente (só aparente!) submissão, troteiam na direção por nós estabelecida. Todavia, é maltratarmos as boas ideias ou nos mostrarmos indiferentes, lá vem o troco! Estrebuchados no chão, passamos a ver o mundo sob a ótica das formigas, minhocas e tatus-bola. As boas ideias exigem tratamento diferenciado, atenção e, por vezes, até certa deferência. Algumas delas esperam compor a mesa junto às mais altas autoridades. Buscam os holofotes e ansiosamente aguardam o descerrar das cortinas. Outras boas ideias preferem o anonimato ou a simplicidade e bucolismo do campo. Estas últimas são práticas e um tanto que desconfiadas. Contudo, é conhecê-las, viram grandes e fiéis amigas. Não que as outras boas ideias – engravatadas e dadas a cerimoniais – não estejam, também, abertas ao convívio franco. Porém, são, quase sempre, excessivamente formais e demasiadamente teóricas. Frequentam círculos onde, muito comumente, a prolixidade e a vaidade correm soltas. Conservam, entretanto, em que pese certa antipatia, a essência das boas ideias. Estas, todas elas, têm lá sua importância. Algumas mais, outras menos. São belas e admiradas, nem que apenas para aqueles que as pariram. Afinal, boas ideias são como espermatozoides. A maioria se perde pelo “caminho da vida”. As que vingam, são como filhos e filhas. Gordinhas, magrinhas, altinhas, baixinhas, estrábicas, peraltas, quietinhas... Amadas por quem as têm.  

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

SESSE OU FOSSE?


SESSE OU FOSSE?
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br




                Quem tem filhos sabe: como esquecer aquela fase onde nosso pimpolho ou pimpolha (ou ambos...) troca o “fosse” pelo “sesse”? “Se amanhã sesse domingo...”, ou “se sesse a mãe, ela deixaria...”. Para alguns pais, boas e engraçadas lembranças. Para outros, situações do presente. Passado ou não, há algo em comum entre os pais de hoje e os de ontem: lá estávamos (ou estamos!) nós, os chatos, a corrigirmos a criança. “Pela milésima vez, não é ‘sesse’, é ‘fosse’”. A pobrezinha para, aparenta entender a lição mas, logo ali, está novamente a trocar as expressões. Um ou outro, é verdade, o faz só para caçoar do marmanjão. A maioria, contudo, é tão-somente coisa da idade. Vá entender gente grande, devem pensar os pequerruchos. Hora são só gargalhadas, hora condenam os pequenos. Hora se dão até ao trabalho de gravarem os escorregões gramaticais. É duvidar, ainda postam nas redes sociais. Contudo, logo ali adiante são capazes de ralharem com o rebento. Ao que parece, não sabemos nós, os adultos, o valor do “sesse”. Tempos bons. O “sesse” diz respeito ao universo infantil, onde as conjugações verbais se dão de forma distinta da nossa. O tempo para criança tem outra dimensão que não esta que adotamos depois de adultos. O tempo da criança é lúdico, multicolorido, sem muito compromisso com a ideia de início, meio e fim. O nosso, ao contrário, o tempo do “fosse”, nos amordaça, entorpece e escraviza. O “sesse” soa como devir. Mais parece a “casa da mãe Joana” (ou seria “coração de mãe”, pois tem espaço para todos?), onde pretérito, presente e futuro – quase nunca nesta ordem... – se misturam, feito maçaroca no cabelo. O “fosse”, por sua vez, é pobre em conjugações. Limita e atrofia os sonhos. Mais parece criação demoníaca de um Capitalismo doentio, vazio e frio. Mais do que triste rima, tais adjetivos são fruto (artificial, apesar – por vezes – da boa aparência) de um maquiavélico e funesto modelo. O “fosse” tem o pé no abismo. Talvez, por isso, mesmo que inconscientemente, o “sesse” represente uma ameaça, pois que o último denota vida, luz e magia. Ah, tem a alegria, a correria, o trava-línguas... Nos finais de semana tem, ainda, a casa da tia. Repararam? Também rima. Não nos enganemos, contudo, pois é de uma outra espécie, distinta da rima do “fosse”. A deste não tem graça, é – quase sempre – só desgraça. A rima do “sesse” faz chorar, mas é de tanto rir. Mijar de rir. Há quanto tempo nós adultos não “mijamos” de tanto rir? Acho que desde quando optamos pelo “fosse”. Sinceramente, se eu “sesse” vocês pensaria sobre o assunto... 

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