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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA



CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA
Prof. Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                Não, o título não é novo, como não o é o fato. Quantos já foram os cursos de Educação de Jovens e Adultos - EJA, em Cachoeirinha, que tiveram suas atividades encerradas nos últimos anos? Três? Quatro? Poderia ser pior. Não se trata da Lei de Murphy, mas sim resultado elementar de algumas falhas de diversos “atores” envolvidos, direta ou indiretamente, com o problema. Ano após ano, tem sido dado o sinal de alerta para o pequeno número de alunos atendidos pelas escolas públicas municipais que ofertam a EJA. Uma demanda irrisória se comparada ao elevado custo que o atendimento representa para o erário público. Muito investimento para um resultado pífio. Salas vazias, servidores se pechando pelos corredores, consumo de energia, água, manutenção da limpeza e tantos outros “contras” para tão poucos “prós”. O que deveria ser “investimento”, há muito vem sendo só “gasto” sem que se vislumbre – nem de perto – os frutos pretendidos.  Gestores e professores mal preparados, alunos desmotivados. Evasão assustadora, repetência avassaladora. Tristes rimas que só fazem crescer a desesperança na escola, robustecendo o vergonhoso e melancólico cenário da educação, principalmente pública, por estas terras. Sobra indisciplina, baixo rendimento, parca aprendizagem, doenças laborais. Falta planejamento, organização, pesquisa, trabalho em equipe, gestão democrática. A EJA tem sido prova cabal e inconteste de que a qualidade de ensino não passa, necessariamente (somente!), pelo número de alunos por turma ou por educador. Apesar do Saara existente, viceja a já conhecida dificuldade de fazer com que o aluno aprenda. A mesma falta de vínculo tão característica no dito ensino “regular” prospera na EJA. Há escassez não apenas de público, mas de afeto, de compromisso e de cumplicidade com o sentimento alheio. O triste vazio das escolas de EJA dá lugar às moscas e à frieza nas relações. Por vezes, criam-se guetos e “corporações de ofício” hermeticamente fechadas, incapazes de receberem não apenas o “outro”, mas também o “ar” necessário para a própria sobrevivência do grupo. Este morre não por inanição, mas pela falta de “emoção”.  Culpa de quem? Poder Público, servidores, escola, família, aluno? Ora, não se trata de buscar “culpados” pelo fracasso da EJA em Cachoeirinha, mas sim de atribuir “responsabilidades”. Trata-se de uma responsabilidade, por assim dizer, “solidária”, onde todos perdem e ninguém ganha. Ao Poder Público cabe, por exemplo, ter bem claras suas diretrizes para a EJA, qualificar sua Assessoria Pedagógica, valorizar os servidores através de um Plano de Carreira atraente e de salários condizentes à importância do exercício do magistério. À Equipe Diretiva cabe, entre outros, fazer da gestão democrática uma prática cotidiana e permanente, pautando sua ação no profissionalismo e jamais no clientelismo e na “troca de favores”. Aos professores, por sua vez, cabe um “fazer pedagógico” voltado à acolhida, à valorização e respeito às chamadas múltiplas inteligências, desafios estes que pressupõem muito estudo, planejamento e trabalho coletivo. As funestas práticas corporativistas devem ceder lugar à ética, ao respeito, à necessária e permanente qualificação do grupo. Às famílias cabe participarem ativa e positivamente das decisões da escola, acompanhando rotineiramente o processo ensino-aprendizagem, pois que dele fazem parte. Assim, inexistem respostas “dadas” para os problemas enfrentados pela EJA em Cachoeirinha. As saídas (e elas existem!) devem ser “construídas” por cada um e por todos. 

TERRA NOVA



TERRA NOVA
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                A que ponto chegamos! Ainda ontem, usei parte de meu tempo para assistir, no “plim-plim”, a abertura do Terra Nova. Como todo início de série, fiquei um tanto que confuso, tentando entender a trama do filme. A série criada por Kelly Marcel e Craig Silverstein, ao menos em seu primeiro episódio, não chega a impressionar. Não fossem aqueles animais gigantes – produtos da tecnologia hollywoodiana –, inseridos num cenário Cretáceo, o filme passaria completamente despercebido. O que, talvez, tenha realmente chamado minha atenção foi, digamos..., a mensagem trazida na tela. Um planeta já deteriorado, de um lado, quedado pelas mazelas humanas. Por outro lado, um novo lugar, uma Terra Nova, representando a possibilidade do recomeço. Aparentemente salutar a intenção, não fosse um detalhe. O homem que habita os dois “mundos” (o de 2149 e o pré-histórico) é o mesmo! Apenas transpôs o “portal”. Percebe-se, portanto, como que um “ato-falho” intrínseco ao filme, típico do modus operandi ou american way of life, qual seja, a “cultura do descarte”. Descarta-se o antigo (o lapso temporal para definir o “velho” é cada vez menor) em prol do novo. Mexe-se na aparência, sem que se toque na essência. Olha-se para “fora”, para o “exterior”, em detrimento de um olhar introspectivo. É, como de costume, uma “solução” comprada, não construída. Incólume fica a reflexão ética acerca do indivíduo e das relações que este traça quanto a si e quanto ao “outro”. Trata-se de uma saída indolor. Onerosa (nada que um punhado, ou mesmo uma montanha, de dólares não possa pagar...), mas sem dor. É a solução sonhada pelos que têm crise de nervos só em pensar em temas como sustentabilidade, desarmamento, distribuição de renda, reformas agrária e urbana, igualdade, oxigenação do poder, entre outros.  O Terra Nova vem ao encontro do imaginário capitalista, consumista e egocêntrico. É um olhar incapaz de transpor os limites do próprio umbigo. Denota preguiça mental e indiferença social. É uma retomada de Alice no País das Maravilhas ou, mais contemporaneamente, de uma das tantas histórias da Barbie. Um mundo de sonhos, quase sempre muito caros, anos-luz de distância do poder de compra da esmagadora (e esmagada!) maioria dos mortais. Sonhos sem utopia. Sonhos vazios. Sonhos que são sonhados sozinhos. Uma Terra Nova, salvo no plano etéreo e espiritual, ou é produto cinematográfico ou, então, resultado de uma digestão mal feita. Há de se pensar, isto sim, é no sujeito que habita estes páreos. Urge, eu e você, refletirmos nossas ações (cada uma delas), nossas relações, nossas opções... Alimentar a ideia de uma Terra Nova é acreditar ser possível remendar roupa, já espuída e deteriorada, com pedaços de tecido novo. Vã tentativa.  


quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O FIM DO MUNDO



O FIM DO MUNDO
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                Passado o prazo para o fim do mundo, em vinte e um de dezembro de dois mil e doze, sobra um misto de sentimento de alívio e de decepção. Alívio porque, mesmo para os mais céticos, sempre há margem para dúvida: vai que a profecia de um punhado de malucos visionários se confirmasse. Decepção porque não era incomum perceber um ar de vingança no ar: é a hora da natureza dar o troco, hora de pôr fim à corrupção, à fome, à mesquinhez humana, etecetera e tal... O fato é que o mundo não acabou. Ao menos para os que estão aqui, vivos, lendo esta porcaria de texto. Talvez sequer para os “do além” o mundo tenha acabado. Sabe-se lá o que se passa do outro lado do... “muro”, “portal” ou coisa parecida. Talvez, ainda, estejamos todos mortos e não saibamos... Eu, você, o Sarney... Este não! É imortal. Como negar que o legítimo dono daquele inconfundível bigode esteja vivo? Dizem que coisa ruim não morre. Ora, se o eterno político maranhense (ou será amapaense, conforme lhe convém?), segue a lambuzar o risível bigode, mamando nas tetas da República, é porque está vivo, não é mesmo? Ele e nós (eu e tu meu amigo ou minha amiga...). Uma questão de silogismo, como já ensinavam os gregos. Definitivamente, o mundo não acabou. Seguem os dias, a rotina de levantar cedo para trabalhar ou procurar trabalho (exceto os “amigos do alheio”, gigolôs, vagabundos, senadores, deputados, vereadores...), as contas (intermináveis...) para pagar, a violência e carnificina das ruas, o caos no trânsito, as quilométricas filas nos bancos, a falta de leitos nos hospitais, o saldo negativo na conta corrente. O nome não poderia ser mais apropriado. Feito corrente com uma esfera de ferro numa extremidade, presa ao tornozelo do pobre coitado na outra, é uma conta que mais faz lembrar Prometeu sendo diária e friamente torturado pelo corvo em meio à rocha. Tormento sem fim. O “limite” cedido pelo banco, feito vinagre oferecido na cruz, é triste engodo. O mundo não terminou. Assim como a “Mega da Virada”, um grande golpe publicitário. A mídia precisa disso. Necessita alimentar sonhos. Não fosse isso, a fúria dos homens – centenas, milhares, milhões deles – seria canalizada de outra forma. Um risco à (pseudo)democracia, à ordem “natural” das coisas e à (in)segurança jurídica. A velha “política do pão e circo” precisa ser mantida, mesmo que aparentemente reinventada. Ontem gladiadores sob o olhar de César e outros imperadores, hoje as caricaturas sob o olhar do Faustão, do Bial e da Regina Casé. Muita coisa em comum, em especial nós: os bobos! O mundo não acabou. Erro do calendário maia? Absolutamente! O erro é nosso. Não soubemos interpretá-lo. Pudera! Como fazer a “leitura” de algo tão distante e complexo se somos incapazes de resolver continhas de adição e subtração? O orgulho “canarinho” e verde-amarelo só é menor do que nossa estupidez. O olhar prepotente de quem se vangloria do tamanho da bunda das mulatas e da imponência dos carros alegóricos arrefece a criticidade e afugenta qualquer iniciativa de verdadeira, profunda e duradoura mudança. O fim do mundo não chegou. Poder haver fim sem começo? Somos um país sem início. Um país que, na tentativa de ser tudo, acaba por ser quase nada. Um país do “futuro”, jamais do presente. Futuro incerto e impreciso. Muito provavelmente, um futuro tomado de infortúnio. Apesar de singelo, um trocadilho carregado de atávica maldição. Não lusitana, como tentam alguns fazerem acreditar, mas uma sina construída no quotidiano, nas relações, nas opções, nas decisões... Uma maldição transferida de pai para filho. Fazemos, ao que parece, questão de comermos uva verde. Embotam os dentes e o cérebro. Esvai-se o senso crítico. Resta uma só impressão: é o fim do mundo!

BONS FRUTOS



BONS FRUTOS
Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                Filhos são uma bênção. Filhos bons são uma bênção maior ainda. Fui, portanto, duplamente abençoado. Ontem, dezenove de dezembro de dois mil e doze, foi um momento especial, pois vi minha filha finalizando o Ensino Fundamental. Mais do que isso. Formando-se na Escola onde também estudei e, há mais de vinte anos, trabalho. Novamente, duplamente abençoado! Filhos bons são como bons frutos. Saudáveis do ponto de vista moral e ético – infelizmente, nem sempre do ponto de vista físico... –; doces ou nem tanto, mas autênticos, sem os “agrotóxicos” e perfumarias do mercado. Filhos bons não são “bichados”. O conteúdo e interior deles combinam com o “invólucro”. São, portanto, confiáveis. Valem muito. Como preciosidades, são disputados e apreciados. Filhos bons, assim como bons frutos, não foram criados para serem lançados nas “lixeiras” da vida, onde proliferam as drogas, o descaminho, a promiscuidade e a escassez de limites. Filhos bons são motivos de orgulho. Por isso, estou assim... Orgulhoso. Faltam palavras, bem sei, mas sobra alegria. Como foi bom ver minha primogênita recebendo os louros da vitória. Dela, da família e da Escola. A formatura é, por paradoxal que possa parecer, feito o nascimento. Este é a coroação de uma relação de amor e afeto. Aquela é o ápice de uma relação, também, de amor e de afeto, ambos ingredientes indispensáveis no processo ensino-aprendizagem. Minha filha é fruto do amor. Amor dos pais, que educam, e dos professores que, feito os pais, zelam e cuidam durante horas, dias, semanas, anos... Mais do que um rito de passagem, a Formatura é uma consagração. É momento de reflexão, mas, sobretudo, de agradecimento. Por certo, representa também uma espécie de “fratura” (talvez nem tanto, sequer uma luxaçãozinha), um rompimento com o as coisas de criança...  Quem diria! Ainda ontem, minha guria não passava de uma criança. Hoje, uma moça. Linda, inteligente, maravilhosa... Que venha o Ensino Médio! Que venham novos colegas, amigos, experiências e responsabilidades. Estas crescem com o passar dos anos. Parece, só parece, uma equação simples: mais liberdade é (ao menos, deve ser) produto da responsabilidade multiplicada pela idade. O resultado não pode ser outro. Bons frutos. Olhem só, eles aqui novamente! Parabéns à minha filha pelo ótimo desempenho no Ensino Fundamental! Parabéns à família (aqui compreendida numa forma extensiva, onde pais e irmãos foram, juntamente com a avó Geci e a tia Fafá, fundamentais na árdua tarefa de cuidar e educar)! Parabéns ao Instituto de Educação São Francisco, em especial seus professores (meus colegas!), pela acolhida e formação intelectual de minha eterna guria. Formação não apenas intelectual, é verdade, mas também formação e reforço de valores cultivados no seio familiar. Parabéns aos colegas de minha filha, em especial àquelas amigas mais próximas dela. Amizade que, acredito, seguirá ainda por muito tempo... Apesar da distância. Apesar dos caminhos percorridos. Apesar das decisões tomadas. Afinal, amigos de verdade, são como filhos bons. Geram bons frutos!