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segunda-feira, 26 de março de 2012

A SAÚDE NO(DO) BRASIL

A SAÚDE NO(DO) BRASIL
Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com



Historicamente, o Brasil está em dívida com a saúde da população. Esta última segue esquecida, aguardando meses a fio por um exame ou cirurgia. As filas só são menores do que a paciência de nosso povo que, como anestesiado, aguarda sua vez de ser atendido. Além de poucos comparado à demanda, muitos profissionais da saúde deixam a desejar quanto à qualidade do serviço prestado. Seja pela parca remuneração, seja pela jornada de trabalho extenuante, seja ainda pela incompetência, o fato é que não são poucas as reclamações de pacientes em relação ao atendimento que lhes é dispensado. Os recursos públicos, garantidos pela legislação, ao que parece, não chegam onde deveriam chegar. O que sobra em desvios, malversação, negligência e corrupção, falta em investimentos. Daí, em parte, a falta de leitos, os prédios hospitalares úmidos, sujos e mal equipados. Pela sarjeta escorrem verbas, assim como a dignidade dos brasileiros, em especial os mais humildes. Enquanto isso, o Poder Público segue omisso, como paspalho, enquanto um punhado de gatunos enriquece sob a sombra de um Judiciário afundado em meio a longos e infindáveis processos a denunciarem elevado grau de incompetência, ineficiência e ineficácia. O tempo, em tais casos, joga a favor dos corruptos e em desfavor da ética. Enquanto isso, corpos se acumulam nos necrotérios. Famílias perdem seus entes queridos. Mais parece uma guerra. É uma guerra. Vitima a sociedade por inteiro. Cria uma triste ciranda, onde a morte é dada como certa. Uma roleta russa sustentada por um Estado sem crédito.

                A Campanha da Fraternidade de 2012 traz como temática a questão da saúde. Impele à reflexão e à discussão. Tomara que, também, à ação concreta por parte da sociedade civil organizada e do Poder Público, por exemplo. A saúde precisa deixar de ser apenas um discurso eleitoreiro. Em jogo, a vida de crianças, idosos, doentes de todas as idades. Milhões de brasileiros aguardam o dia em que neste país, a vida seja de fato respeitada, valorizada e protegida.

quinta-feira, 22 de março de 2012

INCLUSÃO: UM MUNDO PERFEITO

INCLUSÃO: UM MUNDO PERFEITO
Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com

                Mal o sol firmara no horizonte, as crianças iam chegando. Aos pingados, sem pressa, pois que esta é coisa de gente grande. Os adultos é que correm contra os ponteiros do relógio. O frenesi, definitivamente, passa de largo do mundo infantil. Mochilas de todos os tamanhos e cores. Feito balões, algumas delas como que flutuavam apoiadas às costas dos pequerruchos. Uma que outra criança parecia ainda não ter despertado, ao menos é o que denunciavam os olhinhos pequenos e o andar cambaleante.  A maioria delas acompanhada por um adulto. Talvez pai ou mãe. Mais provável que avós, pois que corujas. A mão calejada a segurar aquela mãozinha frágil. Como farol, o mais velho indicava o caminho. Este conduzia sempre à sala de                    aula. A professora, de braços abertos, recepcionava a todos com um largo sorriso. Largo e sincero. Os pupilos eram-lhe caros, feito joias. Verdadeiros diamantes a serem lapidados. Feito oleiro, caberia à professora a nobre e sagrada tarefa de “moldar” aqueles pequenos nacos de barro. Ajeita daqui, arruma dali, aumenta acolá. Já antevia a educadora que por mais simples que fosse, a obra era “prima”. Não dera cinco minutos e lá estavam todos eles. Sentados em forma de círculo, pacientemente aguardavam as orientações da “prô”. Os pequenos mais pareciam capricho da natureza. Pareciam em sintonia com o próprio ambiente da sala. Esta era um espaço amplo, asseado, bem arejado. Do lado de fora ainda se ouvia o cantar matinal dos canários, sabiás e bem-te-vis. Ah, tinha ainda o canto estridente e imperioso do Zé, o velho galo tão conhecido da piazada. Nas molduras de madeira, que atravessavam cada parede de lado a lado, caíam pendurados por prendedores lindamente enfeitados, trabalhinhos e mais trabalhinhos. Como troféus, eram expostos devidamente identificados. Dos doze pimpolhos, dois eram “especiais”. Fosse há alguns anos, estariam confinados numa escola dita “especial”, tais como o eram os manicômios e leprosários. Lugares de gente “desajeitada”. Lá ficariam anos a fio, talvez a vida toda, sob o olhar indiferente dos “de fora”. Quando muito um presentinho aqui ou um mimo acolá a coincidir com datas comemorativas. Espécie de esparadrapo na consciência. Um álibi para empanturrar o estômago com os comes da ceia de Natal. Agora não. Os tempos eram outros. Graças à Lei, honrosa e poderosa. Depois d’Ela nunca mais a escola foi a mesma. Bem-aventurados aqueles que a fizeram. Probos e éticos. Sábios e humanos. Legisladores de verdade. Quase santos. Não fosse o paletó e a gravata perfeitamente alinhados, diriam tratar-se de anjos. Como livro sagrado, a Lei já há algum tempo ocupava gabinetes e salas de professores. As crianças, principalmente elas, recitavam a Lei feito um mantra. Duvidassem, sabiam de cor e salteado. Verdadeiro verbo capaz de dar vida às coisas. Capaz de fazer nascer do nada, sonhos outrora sequer imaginados. O poder da palavra. Dizia a Lei? Pronto! Mandava, não pedia. Determinava que todos os alunos seriam inclusos: coxos, cegos, surdos, mudos. Fosse baixo, médio ou grande o comprometimento motor ou cerebral. Não importava. A Lei trazia a solução. Mágica, instantânea, automática. Feito Deus no Éden, a Lei dizia: “haja luz” e logo a escuridão, a falta de recursos, a desmotivação, os parcos e humilhantes salários dos professores, o número excessivo de alunos nas salas, a incompetência do gestor público, a apatia e omissão da família, enfim, tudo se resolvia. Não por acaso, a Lei passara a ser venerada. Ai de quem dela duvidasse. Não restaria outro lugar que não o Tribunal ou, o que para alguns parecia pior, o “convite” compulsório para migrar, feito desgarrado, para outra Secretaria. Nem poderia ser diferente. Afinal, por que alguém em sã consciência se rebelaria contra Aquela que trouxe nova vida e esperança às crianças? Ao longe, o Zé cantava, como se fosse seu último e derradeiro canto. 

sábado, 17 de março de 2012

ROSAS E DANINHAS

ROSAS E DANINHAS
Gilvan




Flores existem de todas as espécies. Grandes e pequenas, cheirosas e “neutras”, com ou sem espinhos, resistentes ou avessas à água, coloridas ou não. Enfim, uma infinidade de espécies. Contudo, no reino delas, algumas têm história, são ou merecedoras de honrarias ou, ao contrário, preteridas pelo mal que causam. Assim são as rosas e as daninhas. Enquanto as primeiras viram letra de músicas e cantigas, as últimas sequer são mencionadas ou lembradas nas rodas infantis. Rosas são poéticas, daninhas são danosas. Os espinhos das rosas, para o desespero dos que dela sentem ciúmes, mais do que ferirem, dão-lhe verdadeiro charme. As daninhas, apesar de espinhos não possuírem, matam e sufocam. As rosas sequer precisam de invólucro, pois a beleza lhe é inata. As daninhas, por sua vez, por mais que tentem se parecer com rosas, jamais terão seu perfume e sua beleza. As rosas desabrocham e murcham no tempo certo, naturalmente. As daninhas sequer o tempo conhecem, pois como sanguessugas e vampiros extraem a vitalidade alheia. Assim, o tempo que vivem não lhes pertence. Mais cedo ou mais tarde, vem o ceifeiro e limpa o terreno. Só ficam as rosas...

Este ano, sabe-se, é ano de eleição. Com ela, muitos desafios. O primeiro é convencer os eleitores de que a participação política – que não deveria se resumir ao simples depósito do voto na urna – é vital para que venhamos corrigir as distorções, erros e injustiças que nascem, também, do pérfido e mal cheiroso “sistema” político-partidário brasileiro. Um sistema corrompido, não confiável e confuso. Um sistema que perpetua as nefastas práticas de apadrinhamento, de compra de votos, de promessas voltadas ao benefício de poucos que, logo adiante, só fazem inchar de Cargos em Comissão (CCs) e Funções Gratificadas (FGs) os gabinetes e secretarias. Poucos ganham, quase todos perdem. Perde a coletividade. 2012 é um ano para, novamente, optarmos. Qual é o tipo de cidade que desejamos? Qual é o perfil de parlamentar que queremos? Legisladores boçais, ignorantes, brucutus? Vereadores jurássicos que se perpetuam na Câmara pautados em práticas coronelistas típicas da República Velha? Cachoeirinha precisa respirar novos ares. O Município necessita de representantes capazes de auscultarem os verdadeiros anseios e carências nascidas junto à comunidade. Precisa de homens e mulheres verdadeiramente comprometidos com a ética, com a justiça, com a seriedade em relação à coisa pública.

Neste ano, elejamos rosas e não daninhas. Destas últimas, os homens e mulheres de boa-vontade estão saturados e cansados. Já não mais acreditam em seus propósitos e sua lábia. Por mais que se maquiem, se transformem ou se vistam, serão sempre daninhas. Jamais terão o perfume, a beleza e o esplendor das rosas...

segunda-feira, 12 de março de 2012

FILHOS MIMADOS

FILHOS MIMADOS
Gilvan Teixeira


            Como pequenos (às vezes, não tão pequenos assim...) reis, eles dão as cartas do jogo. Dizem, melhor, determinam o que os pais devem ou não fazer. Quero isso, quero aquilo. É pedir e pronto! Lá estão os pais fazendo-lhes a vontade. Portam-se não como filhos, mas como ditadores. Usam o choro, a ameaça e até mesmo o famoso “beicinho” para alcançarem o que desejam. Aprisionam os genitores fazendo destes não apenas servos, mas escravos de seus desejos. Usurpam o direito natural, divino e jurídico da autoridade paterna. Fazem de seus caprichos uma máxima. Invertem a lógica da verticalidade e da hierarquia, ambas indispensáveis à organização social. É bem verdade que não são todos, quiçá até uma minoria. Ainda assim, um grupo que traz sérios e imensuráveis prejuízos à sociedade. Fazem mal a eles, às famílias, à escola, à sociedade como um todo. São os “sem-limite” de amanhã. O preço é, por certo, altíssimo. Precisam do freio. Os pais o dão ou alguém o fará. A escola, a polícia, o juiz... Parecem acreditar que o mundo gira ao redor do umbigo. Ideia não apenas medieval, mas perniciosa. Chantageiam com o único intuito de conseguirem para si aquilo que desejam, mesmo que algo fútil e superficial. Como débeis, olvidam e transgridem as mais elementares regras de convívio social. Tudo sob a complacência, conivência dos ditos (ir)responsáveis legais. Nefasta e terrível condescendência. Para justificá-la, inúmeros e conhecidos são os jargões e argumentos: hiperatividade, bipolaridade, ansiedade, imaturidade (mesmo que cronologicamente, alguns desses filhos já tenham idade para procriar...). Outra estratégia, não menos incomum, é transferir para outrem a responsabilidade. A culpa é dos colegas, professores, amigos, vizinhos... Quando a explicação não é mais elaborada: coisas da pós-modernidade, dos tempos líquidos... Explicações que nada mais fazem do que tentar mascarar o cerne do problema. São falsas “saídas” que, apesar de toda perfumaria utilizada, não disfarçam o fétido cheiro da incapacidade e incompetência paternas (leia-se, também, maternas). Apesar de ululantes, são problemas e fracassos familiares mal resolvidos. Ajuda externa é, às vezes, bem-vinda e necessária. Porém insuficiente. Urge, primeiro, admitir e reconhecer o problema. Segundo, estar disposto a revertê-lo, mesmo que para tanto se tenha que lutar contra o reinado dos filhos mimados.

sexta-feira, 9 de março de 2012

A COSTELA

A COSTELA
Gilvan



            Um amigo meu, certa feita, disse que a cada oito de março doía-lhe a “costela”. Posto de lado a crença na história bíblica, o fato é que o referido dia é um momento, mais um, de reflexão acerca do que as mulheres representam na nossa vida. Mais do que boas donas-de-casa, excelentes amantes e mães corujas, elas têm sido insuperáveis no exercício laboral, na defesa da ética e, acreditam alguns, no uso do cartão de crédito. Maldade, por certo. Afinal, mesmo que às vezes, só às vezes, eventualmente, excepcionalmente, elas abusem e se deixem seduzir pelos holofotes do mercado, o fato é que são de todo merecedoras. Lá em casa elas são em número de três. Uma tríade de causar inveja. A primeira, mulher já feita, madura. Outra, adolescente, com seus picos de humor. A mais nova, criança ainda, a irradiar energia. Tem ainda a Dona Geci, a primeira mulher da minha vida. Além delas, têm a “mana”, as tias, cunhadas, primas, sobrinhas... Ah, tem a sogra (como esquecer dela?). As colegas de trabalho (há muito, esmagadora maioria), as alunas e suas mães. Mulheres por todo o lado, de todos os tipos. Gordinhas e magrinhas; loiras, morenas e negras; altas e baixas; falantes e introspectivas; estudiosas ou não; engajadas politicamente ou avessas às discussões conjunturais; esportistas ou sedentárias... Enfim, uma miríade de mulheres. Um plural de singularidades. Cada qual um ser único, inigualável. Elas são inconfundíveis, porém mestras em nos confundir, pobres homens. Quem entende as mulheres? O universo feminino parece indecifrável, perturbador. Elas assombram. Com ou sem sombra nos olhos, como sombra assombram, seja pela aparente onipresença, seja pela perspicácia entranhada nas veias. Deixam-nos tontos. Ao contrário de nós, elas dão conta de tudo e, o que é mais incrível, ao mesmo tempo. Multiplicam braços, pernas e olhos. Elas encantam, cantam e plantam. Duvidar, fazem até plantão. Zelam pelos seus e pelos meus. Como leoas, brigam pelos filhos. É bem-verdade que, para nosso desespero, não raras vezes brigam com os pais dos filhos. Brigam, mas brilham. Apesar das rusgas e dos verbetes espinhosos, as mulheres – no fundo – são doces. Deliciam e se deixam deliciar. A vocês, especialmente as mulheres da minha vida, resta humildemente dizer: PARABÉNS!


08 de março de 2012