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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

DROGAS, QUE DROGA DE MUNDO É ESTE?



DROGAS, QUE DROGA DE MUNDO É ESTE?
Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                Às vezes, me pego a invejar o velho Juca, meu avô há muito falecido. Não sabe ele do quanto a ida para a eternidade o livrou. Deixou este mundo numa época em que a palavra ainda valia alguma coisa. Numa época em que ainda se podia sair à rua depois do cair do sol. Numa época em que o homicídio, o roubo, o sequestro e a explosão de caixas eletrônicos (nem existiam...) não eram banalizados e, portanto, despertavam a atenção. Partiu para melhor (acredito!) numa época em que os partidos políticos – mesmo que sob o ranço da ditadura – diziam alguma coisa. Numa época em que o prazer vinha do contato dos corpos, do “dedinho” de canha, da vitória do time no grenal... Deixou este mundo numa época em que maconha era “porcaria” e quem a fumava, o fazia às escondidas.

                É... os tempos são outros. A vergonha parece já não dar as caras por aqui há muito tempo. Os limites, se é que existem, são demasiada e perigosamente largos e tênues. Pais e filhos, muito comumente, se confundem na aparência, nas funções, no vocabulário, na postura... Os primeiros são excessivamente imaturos, enquanto os últimos desafiadoramente prepotentes. O relativismo doentio se perde em meio a devaneios que não levam a nada. Discursos mal articulados e profundamente vazios. Na tentativa de se enquadrar no “politicamente correto”, esvaem-se convicções, princípios e valores. Se a moda é o lilás, todos de lilás. Se a onda é o arco-íris, ai de quem se posiciona de forma contrária. Teme-se parecer “ultrapassado”. Vive-se num tempo em que a horizontalização das relações põe em xeque a hierarquia. Com esta, tende à extinção o respeito e o próprio sentido da família, por exemplo. Mentiras são postas como verdades nos mais diversos meios de comunicação. Ontem, inaceitáveis, hoje vistas com bons olhos.

                Como cidadão, pai e educador que sou, me vejo na obrigação moral e ética de anunciar de maneira inconteste minha posição contrária a qualquer tentativa de legalização ou – para os que se acovardam em deixar clara sua posição – regulamentação no uso da maconha. Sou contrário, ainda, a qualquer iniciativa que vise atenuar as sanções aplicáveis ao tráfico de drogas, independentemente de quem nele esteja envolvido, menor ou não. Triste e pérfida tendência é a que se vê prosperar por aqui. O Estado (todos os poderes e esferas) tem, historicamente, buscado esconder sua inoperância, ineficiência e incompetência por detrás de iniciativas aparentemente alinhadas aos “ventos” pretensamente modernos oriundos do Velho Mundo. O Judiciário, por exemplo, sob o olhar complacente dos outros poderes, “resolve” o problema da superlotação dos presídios impedindo novas prisões e/ou “relaxando” a prisão dos até então trancafiados. O Executivo, por sua vez, leva o problema com a barriga, fazendo puxadinho aqui, outro acolá, sem mexer na questão estrutural do sistema prisional. Este segue “pós-graduando” criminosos, os bestializando e os segregando cada vez mais. Além de caro, é um modelo (que modelo?) comprovadamente equivocado. O Legislativo, como é sabido, não enxerga além do próprio umbigo, afundado que está em escândalos e embebido em meio a discursos que tem as moscas por única plateia.

                Convive-se, no Brasil de hoje, com um “garantismo” penal que, não raras vezes, mostra-se permissivo frente às práticas delituosas. No afã de sair em defesa dos famigerados “direitos humanos”, se comete exageros. Há como que uma inversão de valores, onde o criminoso se torna vítima. O resultado não podia ser diferente: aumento da insegurança e do sentimento de impunidade. O Estado faz lembrar um cachorro correndo atrás do próprio rabo. Seria cômico, não fosse o elevado custo social, político e econômico que tamanha insanidade representa. A liberação/regulamentação no uso da maconha, assim como a atenuação em relação às sanções contra os que traficam, especialmente os “menores”, em nada contribui seja para a diminuição, seja para a solução do problema da criminalidade como um todo ou da drogadição de maneira particular. Ao contrário, o afrouxamento no que tange a tais ilícitos tende a aguçá-los ainda mais. É sabido o que significam o tráfico e o consumo de entorpecentes – o primeiro não vive sem o segundo – para a sociedade que está a cheirar mal, dado a violência e o desregramento existentes.

                A droga faz mal. Não apenas entorpece e faz delirar, mas embrutece. Desumaniza e corrói o tecido social. Destrói famílias e relações. Compromete a produção e põe a perder qualquer tentativa de superação. Afugenta a esperança e anuvia o futuro. Alimenta o crime e subnutre a alma. Cria falsas sensações e rouba o sentido do real. Ludibria o cérebro e faz perder a confiança no ser humano. Faz chorar o pai, e entristece o coração da mãe. Extorque a infância e faz brotar, precocemente, o cheiro da morte. Assim, o uso de entorpecentes e o tráfico de drogas devem ser combatidos. Quem trafica deve ser severa e exemplarmente punido. Quem usa, deve ser urgente e prontamente socorrido e tratado. Soa como irresponsável, doentia e profundamente diabólica qualquer intenção de tornar o consumo da maconha algo “natural” e aceitável. Não se pode, em nome de um prazer fugaz, colocar sob risco a vida e a saúde física e mental de pessoas. 

terça-feira, 28 de agosto de 2012

RETENÇÃO E APROVAÇÃO AUTOMÁTICA, AS DUAS FACES DO FRACASSO ESCOLAR



RETENÇÃO E APROVAÇÃO AUTOMÁTICA, AS DUAS FACES DO FRACASSO ESCOLAR
Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                Cachoeirinha, assim como outros tantos municípios, vem discutindo saídas para o sério problema do ensino, seja ele público ou privado. Quais são as razões para a não-aprendizagem? Por certo, são inúmeras e complexas. Vive-se hoje numa sociedade excessivamente hedonista, avessa à frustração, onde a busca do prazer – preferencialmente fácil e com o menor custo possível – entorpece os sentidos e a percepção do mundo real. A superficialidade tão comum nas relações guarda profunda relação com a cultura do descarte. Os fast-food invadem não apenas as mesas, mas acabam por impregnar muitos outros hábitos. Troca-se de companheiro como quem troca de roupa. Coleciona-se “amigos” como quem junta figurinhas, quase sempre sem nenhum vínculo afetivo. A lista deles cresce na mesma medida da solidão. Nossas crianças e jovens, cada vez mais, se entopem de coca-cola e se dopam com ritalina. Os casos de hiperatividade e de déficit de atenção crescem na mesma velocidade dos “novos” lançamentos da indústria da informática. O que têm de rápidas no movimento das teclas e joystiks, as novas gerações têm de lerdas na capacidade de concentração e memorização. São levas e levas de crianças e adolescentes mórbidos, comprometidas em sua desenvoltura motora e inaptas frente às intempéries da vida. Demonstram dificuldade frente ao “não” e, quando diante dos mais simples obstáculos, dão de ré ou – o que não deixa de ser pior – acham alguns caminhos mais curtos para a falsa e aparente solução dos problemas, mesmo que tais “atalhos” violem a ética, a moral e os princípios mais elementares do convívio social.
                O fracasso do ensino passa, também, pela omissão das famílias. Pela omissão e pela ação muitas vezes equivocada frente à escola. A participação da família na vida escolar do educando tem sido pífia. As alegações são inúmeras: falta de tempo, horários desencontrados, resistência dos filhos, descontentamento com a direção da escola, entre tantos outros. O resultado tem sido trágico. Apesar dos flagrantes avanços normativos associados à democratização da gestão da escola pública (Conselhos Escolares, descentralização financeira, grêmios estudantis, etc.), cada vez mais a instituição de ensino se afasta da família e vice-versa. Via de regra, a comunidade só adentra pelos muros da escola esporadicamente, nos eventos previstos no calendário. O que deveria ser uma prática cotidiana é exceção. A comunidade só se faz representar quando da coleta de algumas parcas moedas que ajudam a engrossar o apertado orçamento das instituições escolares. Onde está a comunidade quando da construção da Proposta Político-Pedagógica? O que dizer da participação dos pais quando da discussão de temas como avaliação, metodologias de ensino, expectativas de aprendizagem, flexibilização curricular, frequência, estratégias de recuperação, disciplina, gestão democrática e tantas outras? As famílias precisam ser convencidas da importância e responsabilidade que têm no processo ensino-aprendizagem. Cabe aos pais acompanhar a vida escolar de seus filhos. A escola precisa posicionar-se frente à inércia de algumas famílias, responsabilizando-as, caso necessário.
                A contestável qualidade do ensino ofertado é resultante também da prática docente, esta não raras vezes ultrapassada e completamente dissociada do contexto do educando. Conteúdos vazios, mal trabalhados e completamente destituídos de sentido para a vida. Contudo, o que mais preocupa é a falta de “vínculo” entre educador e educando. Tem sido comum no ambiente da escola a formação de fronts. Professores de um lado, alunos de outro. Os primeiros acusam os educandos de serem irresponsáveis, indisciplinados, não dados ao estudo, e por aí vai. Os alunos, por sua vez, dizem que os professores são rabugentos, injustos, ultrapassados, etecetera e tal. A quem compete buscar saídas para o impasse que se estabelece, senão ao adulto (professor)? Os discursos acima precisam ser superados. A questão é: como o aluno aprende? Como fazer para que aprenda? Apesar de aparentemente fácil, tais questionamentos têm mostrado o quanto a escola necessita avançar, tanto do ponto de vista do discurso, quanto – e principalmente – da prática. Exemplo disso são os temas envolvendo “retenção” (reprovação) e, no outro extremo, “aprovação automática”.
                Reter o educando é garantia de sucesso no ano vindouro? Aprenderá o aluno com a própria reprovação? A experiência tem mostrado que, em regra, a resposta é uma só: não! Ao contrário, o aluno que reprova a primeira vez tende a seguir reprovando, seja de forma sequencial ou intermitente. Acaba por se tornar um aluno dito “multirrepetente”.  O que mais chama atenção é que, ironicamente, é esse aluno que irá compor o público da Educação de Jovens e Adultos (EJA), às vezes, da própria escola que o reprovou. Trocando em miúdos, a instituição de ensino acaba “transferindo” o problema de turno, sem resolvê-lo. Alguns professores veem – sem, obviamente, admitir –, ainda, a reprovação, ou sua ameaça, como uma importante “arma” para conter a indisciplina e o descomprometimento. Buscam controlar o aluno e a turma a partir de uma estratégia que, comprovadamente, se mostra equivocada. Questões disciplinares precisam ser resolvidas com o exercício da autoridade e a formação de vínculos. Recorrer à retenção, ou mesmo que sua ameaça, em nada contribui no processo ensino-aprendizagem e muito menos na melhoria das relações no ambiente escolar. Ao contrário, só as tencionam negativamente. O uso da reprovação como instrumento de “vingança” – mais parecendo a Lei do Talião – só faz recrudescer o descrédito em relação à figura do educador, trazendo indelével prejuízo ao ensino. A reprovação significa o fracasso não apenas do aluno, mas de sua família, do educador, da escola, do Estado... Todos perdem com ela. Ninguém, ninguém mesmo, ganha com ela. O Rio Grande do Sul, mesmo sendo o estado da federação que mais reprova, ainda assim amarga uma triste e vexatória posição no ranking relacionado à qualidade de ensino no país. A retenção compromete e põe a perder não apenas volumosos recursos financeiros, mas o futuro de muitas crianças e jovens. Representa uma marca indelével para toda vida.
                Por outro lado, tão danosa quanto a reprovação é a “aprovação automática”. Ambas beiram a irresponsabilidade e trazem inúmeros prejuízos não apenas aos sujeitos envolvidos (professor, aluno, família, escola), mas à sociedade como um todo. O educando precisa aprender, eis a questão. Para tanto, é fundamental uma ação que seja, de fato, coletiva. Simplesmente aprovar o aluno e ascende-lo aos anos posteriores, como forma de dar conta de um texto legal e/ou de melhorar os índices oficiais é, no mínimo, pouco inteligente, para não dizer inaceitável. Até porque, por certo, a vida cobrará logo ali adiante o devido preparo dos egressos dos bancos escolares. O mercado, por exemplo, – ao contrário do jogo de aparências tão comum no ambiente escolar – é cruel e taxativo, dispensando aqueles que não respondem às exigências, mesmo que rodeados de certificados. Portanto, eventual aprovação sem respaldo num verdadeiro aprendizado soa, também, como fracasso. Optar por modelos que deem conta apenas das “aparências” é, portanto, temerário.
                O fracasso escolar deve ser séria e urgentemente atacado, pois feito câncer corrói o próprio sentido da escola. Esta existe para aprender e ensinar. Só faz sentido se for capaz de humanizar as relações, de instigar os sentidos, de produzir conhecimento. Cabe à escola o papel de salvaguardar sonhos e utopias. Cabe a ela contribuir na formação de verdadeiros cidadãos, homens e mulheres de bem, comprometidos com o meio. A superação do fracasso escolar passa pelo papel da família, do educando, do educador, do ente púbico. Este precisa não apenas alocar mais recursos para a educação, mas otimizá-los. Precisa promover avaliações criteriosas em relação ao trabalho desenvolvido pelas instituições de ensino, coletando dados, mas principalmente usando-os com o objetivo de sanar dificuldades e melhorar a qualidade do serviço. A melhoria na qualidade do ensino passa, ainda, pela formação continuada do corpo docente e pela valorização salarial. O educador precisa ser cobrado, mas devida e dignamente remunerado. Espaço para pesquisa e planejamento deve ser garantido aos que se dedicam à árdua tarefa de ensinar. O corporativismo que hoje, por vezes, esconde a incompetência e o mau exercício da profissão, deve ceder lugar ao trabalho em equipe.
                Conclui-se, portanto, que o processo ensino-aprendizagem requer um olhar cuidadoso, fundado no amor, no profissionalismo, na competência e, sobretudo, na convicção de que todos aprendem, mesmo que em tempo e forma diferentes.

Leia mais: http://www.sinepe-rs.org.br/core.php?snippet=artigos_interna&id=17721

COTAS RACIAIS: INFERIORIZAÇÃO OU INFERIORIDADE?



Cotas Raciais: Inferiorização ou Inferioridade?

                A exploração indígena e, posteriormente, negra africana fazem parte do processo de colonização do Brasil. Ambas foram abolidas, a segunda um século após a primeira. Apesar da liberdade, não foram providenciadas medidas de integração social para negros e indígenas. Mais de 120 anos depois da lei Áurea, a discriminação racial ainda é refletida no comportamento brasileiro.
                A maior parte da população negra e indígena do país ocupa posições subalternas. O racismo, ainda com forte influência em certos grupos, reflete uma maior dificuldade na inserção no mercado de trabalho. Esses indivíduos de baixa renda geram filhos com escolaridade precária, mão de obra desqualificada e oportunidades de emprego escassas, criando um ciclo da pobreza. Segundo dados do IBGE do ano de 2010, os rendimentos médios mensais de brancos (R$: 1538,00) se aproximam do dobro do valor relativo aos grupos de negros (R$: 834,00), pardos (R$: 845,00) ou indígenas (R$: 735,00).
                Segundo o filósofo Aristóteles em “Ética a Nicômaco”, “A equidade, ao contrário, por sua própria natureza, visa corrigir a lei quando esta se demonstra incompleta, para abarcar o caso especial e concreto, que foge à aplicação genérica.” Para ele, a minoria deve ser tratada de modo especial e diferenciada da maioria, com direitos e oportunidades asseguradas.
                Fica evidente a dívida que o país tem historicamente com ambas as etnias. É dever do governo auxiliar a todos, de modo simultâneo a superação de problemas e a ruptura de paradigmas sociais como o de que negros são inferiores. As desigualdades socioeconômicas brasileiras demonstram a emergência por um sistema como o de cotas. É impossível tratar de maneira igualitária realidades tão desiguais.

Nome: Maiara Preissler
Turma: 32
Obs: Esse texto garantiu a seleção para a primeira fase do Concurso Cultural Redação ZH – Unificado e uma bolsa de 50% para o Unificado Pré-Vestibular. 

             O texto acima é da responsabilidade do(a) autor(a). 

segunda-feira, 27 de agosto de 2012



VIDA, TAMBÉM NA POLÍTICA
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                Trânsito e política, eis aí duas questões que guardam entre si inúmeras semelhanças, até porque faces de uma mesma moeda. Enquanto o primeiro ceifa vidas, a segunda sepulta sonhos. No fundo, o problema não está nem no trânsito e nem tampouco na política. Está, isto sim, na forma como as relações se travam tanto num quanto na outra. Ambos têm como pano de fundo – do mesmo tecido que envolve os corpos gélidos depositados ao fundo dos esquifes – a insensatez, o desrespeito, a superficialidade e o descaso em relação a outrem. Lançar sobre o trânsito ou sobre a política a culpa em relação aos disparates e excessos hoje tão comuns – nem por isso, normais ou dignos de aquiescência – é, no mínimo, pecar pela ingenuidade. É dar respostas simplistas para questões complexas. Trânsito e política são produtos de uma história. São construções e realizações humanas. Representam a nossa “cara”. Cada comunidade tem o trânsito e a política que, de alguma forma, fez e faz por merecer. O caos que atormenta condutores e pedestres é da mesma estirpe que alimenta a indiferença em relação ao interesse público. Os “jeitinhos” e “malandragens” tão conhecidos no trânsito, que para alguns é sinônimo de orgulho junto a amigos e familiares, têm a mesma raiz das práticas abomináveis a confundirem o público e o privado. O corpo estendido na estrada não difere muito daquele outro, jogado às traças nos hospitais ou presídios. A foice da morte que atinge famílias inteiras nas estradas é a mesma que alcança crianças, jovens, adultos e idosos, todos esquecidos por um Estado caro, incompetente, inoperante e corrupto. Tanto num caso como no outro paga-se caro, muito caro, sem qualquer espécie de retorno. Seja no trânsito ou na política, sobram teorias e discursos, faltam iniciativas e resultados efetivos.
                A capital dos gaúchos precisa, urgentemente, de vida. Sim, vida no trânsito e na política. Espero que o espírito que move algumas louváveis iniciativas da sociedade civil organizada, seja o mesmo a mover a candidatura daqueles que pleiteiam um assento junto à chamada Casa do Povo. O Legislativo Municipal precisa ser sacudido por mudanças capazes de fermentarem ações que criem novos paradigmas e modelos na forma de pensar e agir de todos os munícipes. Mudanças que ultrapassem a fina casca das aparências. Transformações que redundem e se traduzam em respeito, sobretudo, às pessoas. Ao respeitá-las, como doce consequência, vem a reboque o respeito a tudo o mais: à natureza, aos prédios e monumentos públicos, às tradições, à propriedade alheia, etc. Torço para que as ideias de homens como o Serginho Neglia vinguem e deem frutos, muitos frutos. Como ele, acredito no poder da educação como meio de transformação. Só através dela se vislumbra melhores dias para o trânsito e a política.


terça-feira, 21 de agosto de 2012

TAXAS DE FECUNDIDADE E TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA NO BRASIL



TAXAS DE FECUNDIDADE E TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA NO BRASIL
Prof. Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                O Brasil, apesar de ainda ser um país subdesenvolvido – as desigualdades sociais são perturbadoras – traz algumas características típicas do Norte (países desenvolvidos). Uma delas é o flagrante decréscimo nas chamadas taxas de fecundidade (média do número de filhos durante a idade fértil da mulher). Na década de 1940, por exemplo, a referida taxa era superior a 6 (seis), baixando para 1,7 em 2010 e sendo esperado uma diminuição para 1,5 até o final da presente década. Daí podermos afirmar que o país está passando por uma “transição” demográfica, deixando de lado as altas taxas de fecundidade do passado em direção às baixas e, talvez, preocupantes taxas do presente. As causas para o “fenômeno” são inúmeras.

                Um dos fatores que ajuda a compreender a queda nas taxas de fecundidade no Brasil diz respeito ao processo de urbanização. O crescimento das cidades, suplantando as características rurais pretéritas, permitiu e ampliou – por exemplo – o acesso à informação e aos métodos anticonceptivos. Outro fator a ser levado em conta (no fundo, as causas aqui elencadas guardam relação entre si) está associado ao ingresso da mulher no mercado de trabalho (formal). Até a década de 1970, o número de mulheres trabalhadoras era ínfimo. O chamado “milagre brasileiro”, nome dado ao boom do parque industrial verde-amarelo, abriu um leque de oportunidades à mão-de-obra feminina. A mulher brasileira, seguindo uma tendência há algum tempo observada na Europa e Estados Unidos, cada vez mais foi abandonando o mero papel de “dona do lar”, passando a competir no mercado de trabalho, sob as lantejoulas do movimento feminista. Este, por sinal, foi outra causa que alavancou as profundas mudanças nas taxas de fecundidade. Novos paradigmas são adotados pela mulher brasileira em relação ao próprio corpo. A mulher deixa, aos poucos, de ser mera “procriadora” e passa a levantar a bandeira de que seu corpo lhe pertence – não ao marido e nem ao eventual bebê –, podendo dele dispor quando e da forma que achar melhor. Os “novos tempos”, na prática, acabam por trazer em seu bojo algumas consequências do ponto de vista demográfico. O estratosférico crescimento no número de abortos e uso de anticonceptivos passa a ser inversamente proporcional ao crescimento da população. Ora, parece ficar claro que, cada vez mais, a mulher passa a se dedicar à composição do orçamento doméstico, sendo a gravidez – para muitas das trabalhadoras – como que um “estorvo”, portanto indesejada. Apesar das críticas e posicionamentos de alguns setores da sociedade, como o da Igreja (católica, por exemplo), o certo é que os “valores culturais” trazidos pela dita (pós)modernidade têm se sobreposto aos “modelos” tradicionais de família.

                A flagrante e significativa queda nas taxas de fecundidade no Brasil traz algumas preocupações. Uma delas diz respeito àquilo que a ONU chama nível de “reposição”. Segundo a entidade, a taxa de fecundidade considerada ideal para “repor” a população é de 2,1. Portanto, o Brasil estaria fadado a ver sua população diminuir, relativamente, a médio e longo prazos. O que para alguns (adeptos do neomalthusianismo, por exemplo) pode parecer interessante, para outros deixa transparecer um problema. Não restaria comprometido, num futuro próximo, o fornecimento de mão-de-obra, por exemplo? Contudo, ao que parece, tão ou mais importante do que a reposição e garantia de braços trabalhadores, é a garantia de boa qualidade de vida para maioria de nossa gente. 

FROUXIDÃO PATERNA




FROUXIDÃO PATERNA
Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                Pode haver algo pior do que uma criança mimada e mal-educada? Algo mais passível de crítica do que um adolescente estúpido, desobediente e avesso às regras, por mais importantes, necessárias e bem explicadas que sejam as mesmas? Pior é se deparar com pais que não exercem o papel que a vida e o ordenamento jurídico lhes reservaram. Pais frouxos. Pais que se deixam levar e amedrontar pelas caretas e ameaças dos menores. É o filho falar e “tá falado!”. Pais que não exercem a autoridade herdada e repassada ao longo de gerações. Pais que envergonham não apenas a estirpe, mas a própria história. Verdadeiros reféns de suas próprias criaturas. Pais que se dobram frente às manias dos pequenos ditadores, que se vergam diante das vontades e caprichos de quem – às vezes – mal sabe limpar o traseiro. Pais que buscam compensar com a omissão ou a condescendência, eventual ou permanente ausência. Pais que em troca de um minuto de atenção, entopem os mais novos com presentes e regalos de todo tipo. Pais que “negociam” a obediência de seus mancebos. Hoje “extorquem”, amanhã serão “extorquidos”. Hoje dão conta das aparências, amanhã o preço a ser pago pode ser alto por demais. Pais que, ao sonharem em criar filhos, criam monstros. Estes últimos, seres destituídos de afeto, respeito, honestidade, alteridade, solidariedade, responsabilidade... A frouxidão paterna tem sido algo comum. Nascida na família, dá os ares da graça na escola, no clube, nas rodas de amigos, nos estádios, nas festas. Como praga, corrói as estruturas da sociedade e apodrece as relações. Filhos mal criados (literalmente falando) põem em risco as próprias relações e as de outrem. Destroem vínculos, sepultam sonhos, enuvecem casamentos e afugentam a confiança. Muitas das peraltices que hoje para o incauto pai são graciosidades, amanhã serão tristes pesadelos. A frouxidão paterna tende a confundir adolescência e delinquência. Pais frouxos veem os abusos e excessos de seus tutelados como “vícios” da idade, acreditando ser deveras sem limite o espaço para a teimosia e o questionamento. Este, comedido, é aceitável, pois que necessário – às vezes – à formação do sujeito. Contudo, quando os caprichos da idade se sobrepõem a tudo e a todos, algo está errado. Entretanto, a frouxidão paterna entorpece os sentidos e feito catarata obscurece a visão. Torna o inaceitável em algo “natural”, o fétido em perfume e o absurdo em algo bom. A frouxidão paterna come à mesa com a apropriação indébita, a drogadição, a mentira, a preguiça, o desrespeito e toda sorte de malefícios. Exige-se postura firme de todos os que exercem a função paterna, sob o risco de engendrarmos seres mutilados do ponto de vista ético e condenáveis do ponto de vista social. 

Leia mais:
http://www.brasilsemgrades.org.br/ws/index.php?option=com_content&view=article&id=639:frouxidao-paterna-por-gilvan-andrade-teixeira&catid=46:artigos&Itemid=179

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

PALAVRA DO PROFESSOR (ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL EXTRACLASSE)



PALAVRA DE PROFESSOR

A indisciplina escolar no campo do Direito

Por Gilvan Teixeira*

A indisciplina escolar diz respeito à quebra dos princípios de convivência estabelecidos na escola, tendo causas intrínsecas e/ou extrínsecas. Além de questões clínicas, a indisciplina tem sua origem no contexto sociocultural em que o educando se insere. A família, a escola e a sociedade como um todo são, portanto, também responsáveis pelas posturas inadequadas hoje tão comuns no meio escolar. Pais omissos, ausentes, incapazes de servirem de modelo aos filhos; escolas fundadas em metodologias equivocadas, comprometendo não apenas o processo ensino-aprendizagem, mas sepultando sonhos e utopias e uma sociedade pautada num consumismo doentio e irresponsável que privilegia o “ter” e o “parecer” em detrimento da “essência” e do “ser”. O resultado disso tudo tem sido o preocupante crescimento da indisciplina, com profundas consequências sobre a aprendizagem e, sobretudo, sobre as relações no seio das instituições de ensino.

A indisciplina escolar tem contribuído para a “inflação legal”, ou seja, o aumento significativo do arcabouço jurídico nascido de iniciativas, às vezes, questionáveis do legislador, mas, também, oriundo de uma demanda crescente que tem colocado nos polos ativo e passivo pais, alunos e escolas. A “judicialização” de problemas já existentes ou levados para dentro das instituições de ensino, por vezes, é necessária, especialmente naqueles casos previstos em lei. Porém, o que se vê é a busca do Judiciário frente a demandas que poderiam ser resolvidas em outras instâncias, preferencialmente no âmbito da própria escola.

Assim, a capacidade de resolução de conflitos a partir do diálogo e, quem sabe, de uma justiça “restaurativa”, sucumbe frente à aparente – e quase sempre enganosa – “segurança jurídica” propiciada pelos tribunais. Todos perdem. Perde o próprio Judiciário, pois que já assoberbado pelas intermináveis pilhas de processos. Perdem a escola e as famílias, pois veem a oportunidade de tornar o conflito um momento pedagógico, de aprendizagem e crescimento, esvair-se em meio à desconfiança e acusações mútuas. Perde, sobretudo, o educando – seja ele o agressor ou o ofendido (ou ambos, como é muito comum...) – e, com ele, a esperança de se ter uma escola verdadeiramente preparada e voltada à formação de sujeitos mais solidários, felizes, sadios e comprometidos com o meio.

Portanto, a indisciplina escolar, enquanto problema a ser resolvido, é da responsabilidade de todos os atores da comunidade escolar. Exige-se dos pais uma paternidade/maternidade responsável, pautada num “amor exigente”. Exige-se do educador um “olhar viajante”. Exige-se da escola um espaço de acolhida e valorização da pessoa humana. Exige-se do educando respeito aos princípios de convivência construídos pelo e para o coletivo.

*Bacharel em Direito e professor de História e Geografia no Instituto de Educação São Francisco (Porto Alegre), Conselho Municipal de Educação (Cachoeirinha) e Escola Municipal de Ensino Fundamental Getúlio Vargas (EJA-Cachoeirinha).


Leia mais:
http://www.sinprors.org.br/extraclasse/ago12/palavra.asp
http://institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=b993123f0a26c839222ac40c81af0a6c

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

MAU USO DOS MEIOS ELETRÔNICOS: APONTANDO RESPONSABILIDADES



MAU USO DOS MEIOS ELETRÔNICOS: APONTANDO RESPONSABILIDADES
Prof. Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                A modernidade tem trazido inegáveis avanços no bojo da chamada Globalização. Os meios de comunicação representam hoje um extraordinário mundo de oportunidades e informações. As fronteiras físicas há algum tempo vêm sendo suplantadas e as distâncias vencidas, por maiores que sejam. A internet, por exemplo, vem se transformando no principal canal de comunicação entre os mais distintos matizes culturais, étnicos, sociais, econômicos... As chamadas “comunidades” crescem numa velocidade vertiginosa. Facebook, twitter, orkut e tantas outras criações associadas aos chamado mundo virtual vêm se constituindo em fantásticas “janelas” para o mundo. Contudo, por paradoxal que possa parecer, tais avanços ao mesmo tempo em que facilitam a comunicação, a precarizam. Além de superficiais, em regra, os diálogos que povoam as “redes sociais” estão marcados pelo mais profundo vazio existencial, acometidos de uma doentia superficialidade e estéreis do ponto de vista do conteúdo e dos princípios mais elementares. Escreve-se mal. Peca-se não apenas nas letras, pontos e acentos, mas sobretudo nos tratamentos dispensados aos pares. Alega-se que a linguagem da internet deve ser respeitada e aceita como um “idioma” paralelo, próprio desta conjuntura. O problema é quando tal “linguagem” vem não para somar, mas para substituir aquela outra, a culta.

                O advento das “redes sociais” tem trazido, também, inúmeras dificuldades no que tange às relações pessoais que tangenciam a Escola. Esta última tem sido palco, não raras vezes, de discussões e brigas nascidas de “postagens” equivocadas, irresponsáveis e, por que não dizer, às vezes, infratoras. Ofensas, ameaças, práticas de bullying têm sido comuns. Jovens mal resolvidos fazem das redes sociais terreno fértil para expressões preconceituosas. Adolescentes sem limites se escondem por detrás do aparente anonimato dos meios eletrônicos. Crianças mimadas lançam na internet tristes sementes que, ali adiante, produzirão os frutos podres do desrespeito, da desobediência, da depredação, do vandalismo e da indiferença frente ao sofrimento alheio. Adolescência não pode ser jamais confundida com delinquência. Por certo, há limite para eventuais rompantes dos jovens. Ignorá-lo é alimentar o triste, vergonhoso e condenável quadro dos delitos, estes cada vez mais precoces e não menos incomuns.

                Urge maior cuidado em relação ao uso dos meios eletrônicos, em especial as redes sociais. Maior cuidado por parte não apenas das crianças e adolescentes, usuários de fato, mas também e, talvez, sobretudo, dos pais ou responsáveis. A estes cabe zelar por aquilo que diz respeito aos rebentos. Têm os pais responsabilidade moral e jurídica em relação à prole. Portanto, deve restar claro que os pais têm não apenas o direito, mas a obrigação de regrar e fiscalizar o uso da internet por parte dos filhos menores, sob o risco de serem surpreendidos por demandas judiciais, por exemplo. Têm sido frequentes ações envolvendo menores, ações estas que não raras vezes desembocam na aplicação de medidas socioeducativas e/ou pagamento de indenizações. Somadas ao prejuízo financeiro, se tem outras espécies de consequências, muito mais graves, como a quebra da confiança e harmonia familiares, abalo das relações sociais, entre outras.

                No que tange às crianças e, principalmente adolescentes (doze aos dezoito anos), ressalta-se a necessidade de que se desmistifique a ideia da escassez ou inexistência de sanções para atos praticados por menores. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) tem cunho “protetivo”, não “permissivo”. Busca tutelar direito do menor, jamais sua conduta repreensível. Prova disso são as chamadas medidas socioeducativas, estas aplicáveis para aqueles casos que, no mundo dos adultos, se constitui em crime. Portanto, atos infracionais praticados por adolescentes não passam incólume. Os juizados e tribunais têm, cada vez mais, sido intolerantes com atos praticados por menores. Não diferente tem sido o sentimento de outros segmentos e instituições da sociedade como, por exemplo, a escola.  Mister é que a sensação de impunidade seja substituída pelo sentimento de justiça, de respeito à coletividade e de obediência ao ordenamento, desde que justo e democrático. 

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