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domingo, 29 de abril de 2012

MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS


MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS
Prof. Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com

                O deslocamento de grupos de pessoas acompanha a própria trajetória da humanidade. Na Pré-História, por exemplo, ao que tudo indica, eram bastante comuns os movimentos migratórios, até porque os homens à época eram, na sua maioria, nômades. A busca de comida e abrigo era importante fator instigador do deslocamento do homem, tanto do Paleolítico, quanto do Neolítico ou, ainda, do período posterior, conhecido como Idade dos Metais. Na Antiguidade, inúmeros são os relatos de movimentos migratórios. Alguns deles, vale lembrar, trazidos na Bíblia como, por exemplo, o do Êxodo, onde os hebreus deixaram o Egito dos faraós em direção à chamada Terra Prometida. Na Idade Média, por sua vez, tivemos – por exemplo – as Cruzadas, onde milhares de pessoas aventuraram-se por terras desconhecidas em nome da Guerra santa, envolvendo cristãos e mouros (adeptos do Islamismo). Na Modernidade, entre os séculos XV e XVIII, como esquecer do “Desencravamento Planetário”, já trabalhado em aula, onde os mundos europeu e americano passaram a dar ensejo ao Pacto Colonial, sendo por demais comuns os movimentos migratórios de portugueses, espanhóis, ingleses, entre outros, em direção ao chamado Novo Mundo. Teve, ainda, levas e levas de africanos sendo comercializados como mão-de-obra escrava, sendo obrigados a abandonarem seu continente de origem. Na Idade Contemporânea, finalmente, não tem sido incomum as migrações[1] de todos os tipos, sejam elas externas (imigrações e emigrações) ou internas (Êxodo Rural, Movimento Pendular, etc.).

                As causas dos movimentos migratórios são inúmeras e, não raras vezes, complexas. Merecem destaque questões bélicas (guerras civis e entre países), econômicas (crises econômicas que impulsionam a emigração), religiosas (peregrinações), naturais (cataclismos como, por exemplo, terremotos, tsunamis, erupções vulcânicas), entre outras. No que tange às consequências, as migrações alteram, por exemplo, o quadro populacional dos países (população absoluta e população relativa) e da distribuição das pessoas no interior dos mesmos. Mais do que isso. Os movimentos migratórios tendem a tensionar positiva ou negativamente a qualidade de vida de um país. Podem, por um lado, aumentar as desigualdades sociais, como podem – por outro – representar um ganho para as indústrias e para a economia do país como um todo.

                Os movimentos migratórios podem ser “externos” ou “internos”. Quanto aos primeiros, pode-se falar em imigrações e emigrações, conforme o fluxo de entrada ou saída de pessoas, respectivamente, de um país. Já os “internos” são as migrações ocorridas no interior do próprio país, podendo ser citados a título de exemplificação, o Êxodo Rural (saída do campo em direção à cidade), a Transumância (também conhecida como Movimento Sazonal, pois ocorre em determinadas épocas do ano, sendo relativamente comum no Nordeste do Brasil, envolvendo o Sertão e a Zona da Mata) e o Movimento Pendular (é o vai-e-vem diário ocorrido, por exemplo, nas regiões metropolitanas, onde contingentes de pessoas saem de suas cidades para trabalharem em outra, retornando ao final do dia).

                Os movimentos migratórios (internos e externos) tiveram e seguem tendo uma enorme influência no quadro populacional do Brasil, com indisfarçáveis reflexos nos campos econômicos, social, político, etc. Daí a necessidade de debruçar-se sobre o tema, sob um olhar crítico, objetivando não apenas a compreensão do fenômeno em questão, mas a busca de saídas que viabilizem a construção de uma sociedade menos desigual.




[1] Aqui entendidas como movimentos migratórios. Alguns autores preferem usar o termo “migrações” apenas para os movimentos migratórios que ocorrem no interior do próprio país. 

sexta-feira, 27 de abril de 2012

CONSTELAÇÃO


CONSTELAÇÃO
Prof. Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com


                Muitos veem apenas a escuridão profunda e não as estrelas que, feito pisca-piscas de árvore natalina, povoam o céu. São muitas, incontáveis. Lá estão, eternas, apesar da indiferença dos homens. Ah, como estes poderiam aprender com a singela e interminável beleza das estrelas. Tão pequenas aos nossos olhos que chegam a caber por entre os dedos indicador e polegar. A distância serve, talvez, para mascarar as dimensões imensas desses corpos celestes. Quem sabe, ainda, para não contaminá-los com a mesquinhez humana. Sábia natureza. As estrelas, pacientemente, nos espreitam. Quantos amores, beijos e afetos não presenciaram? Quantos corpos nus diante delas não se entrelaçaram? Quantas pragas rogadas, açoites e cadáveres elas não viram? Crimes hediondos e bárbaros ainda hoje não desvendados, há muito são por elas conhecidos seus algozes e vítimas. Tudo veem, tudo sabem. Apesar disso, de toda onipresença e onisciência, seguem condescendentes. Como são belas. Feito bailarinas, cada qual guarda o seu lugar, marca o seu espaço. Noite após noite. Mesmo quando nuvens escuras e carregadas interpõem-se entre elas e os homens, lá estão. Prescindem da crença dos mortais. Independem dos caprichos daqueles que, passados alguns poucos anos – um nada, diante da idade das estrelas – perecem. Vão-se os anéis, ficam as estrelas. Esvai-se a beleza da mais bela entre as mulheres, enquanto o invejável brilho das estrelas segue como que a zombar do tempo e do espaço.

                Os alunos, meus alunos, todos..., são como estrelas. Verdade! Um dia desses, lá estava eu a observá-los. Deixei o escuro da noite, as brumas do cansaço, o tédio da rotina e, bem ali, diante dos meus olhos, vi as estrelas. Algumas, apenas. Poucas, talvez. As Três Marias, um conjunto de estrelas que, apesar de tão distintas – uma mais escurinha, outra mais “madura”, enquanto a terceira, ainda a transparecer a seiva da juventude –, seguem juntas, inseparáveis. Um casamento que tem rendido não apenas admiração, geração após geração, mas também a atenção de poetas, boêmios e artistas de todas as idades e quilates. Um pouco mais à esquerda, a Panela, um conjunto menos alinhado do que o anterior. Estrelas grandes e pequenas, não tão ordeiras quanto as Marias, mas não menos importantes. Não fossem elas, por certo o panteão celestial daqueles olhinhos brilhantes não seria o mesmo. Onde aparentemente reina o caos, talvez, no fundo, exista uma ordem. Ininteligível quem sabe, mas necessária. As estrelas seguem um curso que lhes é própria, diferente do nosso. Uma estrela, uma história. Duas iguais, jamais. Contudo, nossos olhos – por serem mortais, demasiada e irremediavelmente limitados –, teimam em ver homogeneidade onde reina a diversidade. Triste sina. Destino não dado, mas construído por anos a fio de preconceitos, metodologias estéreis que, apesar da boa intencionalidade, acabam por embrutecer e enrijecer a inteligência e a criatividade. Não raro, acaba-se com o brilho das estrelas. Estrela sem brilho, assim como escola sem aluno, perde o sentido. Têm ainda as cadentes, estrelas indisciplinadas que fogem à órbita inicialmente estabelecida. Serelepes, rápidas, avessas às margens traçadas pelos homens. Inigualáveis, contudo, na poderosa energia que possuem. Até as estrelas mais velhas as invejam. Quanta força, quanta vida... Falta-lhes, talvez, apenas um norte. Não necessariamente o nosso, mas até outro, desde que lhes seja preservada a essência. A estrela é bela não por ser grande ou pequena, raquítica ou robusta, centrada ou cadente, mas sim por ser, simplesmente, estrela.



quarta-feira, 25 de abril de 2012

ESCOLA WALDORF


ESCOLA WALDORF
Prof. Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com


            Quando se fala em educação de qualidade, é comum pairar uma nuvem de desconfiança. Um misto de descrédito, deboche e indiferença. Como ser diferente, quando o que se vê, em regra, é um discurso descolado, por completo, da prática? O Poder Público, por exemplo, ano após ano vive de um discurso vazio e eleitoreiro, mas que no frigir dos ovos nem de perto tem resolvido o histórico descaso com o ensino. Prédios sucateados, professores mal remunerados, metodologias permissivas e obsoletas, altos índices de evasão e repetência. Crianças que não aprendem e escolas que não ensinam. Verdadeiro ciclo vicioso, onde todos perdem. Recursos que se esvaem por entre os incontáveis buracos da corrupção e da incompetência. Neste oceano de histórias mal contadas e não resolvidas, surge uma que outra esperança. A Escola Waldorf Querência, na Zona Sul da capital gaúcha parece vir na contramão do quadro acima descrito. Mais do que uma pedagogia diferente, a Escola deixa transparecer um novo paradigma de homem e de mundo. O espaço é convidativo e as salas por si só são ambientes de aprendizagem. O que dizer das lousas cobertas de arte? A cantina com aquele jeitinho aconchegante? Os brinquedos de madeira espalhados pelo pátio amplo e arborizado? Os educadores que mais parecem contadores de história a se confundirem com suas personagens? As mesas (carteiras) de madeira que, na inigualável simplicidade, carregam como que uma espécie de magia? O som do piano, ao fundo, embalando sonhos? Os olhinhos dos alunos embebidos com a beleza do saber, uns a caminhar por entre os pés de árvores nativas, outros a cantarolar sem os medos e preconceitos dos adultos. Uma Escola sustentada pelos recursos, às vezes parcos, de pais trabalhadores, mas que, assim como o corpo docente, acreditam na possibilidade de um mundo melhor, mais sustentável, fundado na solidariedade, na alteridade, na responsabilidade coletiva, no amor e na fraternidade. Deseja-se à Escola prosperidade, que seu trabalho e proposta frutifiquem, ensejando profundas transformações no encantador processo ensino-aprendizagem. Parabéns à comunidade da Escola Waldorf Querência. Quanto a nós, fica a saudade... 

terça-feira, 17 de abril de 2012

CONFLITOS ARMADOS

CONFLITOS ARMADOS
Prof. Gilvan
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                Os conflitos armados, assim como as desigualdades sociais, acompanham a história da humanidade. Mesmo na Pré-história os homens já disputavam entre si espaços que pudessem lhes garantir a sobrevivência. Na Antiguidade, os litígios seguiram marcando a trajetória dos povos, não sendo incomuns conflitos como aqueles que envolveram, por exemplo, hebreus, assírios, babilônios, gregos (atenienses, espartanos, etc.) e romanos. O que dizer da Idade Média? Como esquecer das Cruzadas ou dos inúmeros conflitos envolvendo os senhores feudais? Sem falar, é claro, da famosa Guerra dos Cem Anos, tendo como principais protagonistas franceses e ingleses. Na Idade Moderna, por sua vez, o mundo assistiu ao encontro das civilizações europeia e pré-colombiana (ameríndios), com as incontáveis e trágicas consequências que acabaram por dizimar culturas inteiras, onde as armas estiveram associadas às doenças e à imposição do modo de vida “branco” em contraposição à fragilidade daqueles que viviam aquém-mar. Finalmente, a contemporaneidade trouxe consigo não apenas as ditas “luzes” da Revolução Francesa e do Iluminismo, mas, também, o recrudescimento de conflitos armados cada vez mais sangrentos e de maiores proporções como as duas Grandes Guerras. Vale lembrar, por exemplo, que desde o final da Guerra Fria (por volta de meados da década de 1980), foram contabilizados mais de 120 conflitos armados, principalmente nos continentes africano (África subsaariana) e asiático.

                As causas desencadeadoras dos conflitos armados são inúmeras, especialmente as de ordem ideológica, étnica, religiosa e política. Certamente, tais causas – em geral – não aparecem isoladas, mas interligadas, imbricadas. É temerário, por certo, tentar reduzir a maioria dos conflitos a tão somente uma ou outra causa. A maioria dos autores tem diferenciado, sem muita precisão, as seguintes formas de conflitos armados: guerrilha e terrorismo. Enquanto a primeira tem estado associada a uma espécie de conflito marcada pela oposição de um exército informal em relação a um exército regular (pago pelo Estado), onde em geral os alvos são “pontuais”, com preservação da população civil, o terrorismo – por sua vez – está marcado pela prática política de quem recorre à violência contra pessoas e/ou coisas como forma de chamar atenção para determinada causa, mesmo que para tanto sejam vitimadas pessoas sem qualquer espécie de envolvimento político ou ideológico.

                No Brasil, alguns grupos guerrilheiros marcaram a história do país. Exemplo disso foi a famosa “guerrilha do Araguaia”, onde algumas dezenas de pessoas ligadas ao PCdoB (Partido Comunista do Brasil) lutaram contra a ditadura que assolava o Brasil, ditadura esta responsável por inúmeros atos de censura, tortura e demais mazelas típicas de governos autoritários. Poucos sobreviveram à ação dos militares. Ainda hoje, familiares dos combatentes assassinados buscam pelas ossadas de seus entes queridos. Mais recentemente, alguns grupos guerrilheiros seguem lutando contra o que julgam injusto e inaceitável, com destaque para as FARCs (Colômbia) e o Hamas (Palestina).

GEOPOLÍTICA DO PÓS-GUERRA

GEOPOLÍTICA DO PÓS-GUERRA
Prof. Gilvan
Blog: profgilvanteixeira.blogspot.com

                Geopolítica pode ser definida como sendo a forma, o jeito, a maneira dos países se relacionarem, em especial no campo da chamada política internacional. Portanto, um conceito próximo aquele já estudado quando da análise da Ordem Mundial. Esta, vale lembrar, mudou ao longo do tempo. Antes da Segunda Guerra, por exemplo, a Ordem era multipolar, onde alguns poucos países exerciam a hegemonia através, principalmente, do poder militar. Entre 1945 e meados da década de 1980, por sua vez, a Ordem Mundial era bipolar, afinal o palco estava polarizado entre os blocos socialista e capitalista, correspondendo ao período da chamada Guerra Fria. Finalmente, a partir de 1985, o mundo passou a vivenciar uma nova Ordem, agora fundada – segundo muitos autores – numa multipolaridade distinta daquela que antecedeu a Segunda Guerra. Hoje, a Ordem está pautada sobretudo no poder econômico.

                A Segunda Grande Guerra (1939-1945) representou, como visto acima, uma espécie de divisor de águas entre duas Ordens. Não por acaso. O conflito – motivado por inúmeras causas, especialmente econômicas – passou por várias etapas, merecendo destaque a entrada dos Estados Unidos e da União Soviética na guerra, situação que mudou por completo o desfecho da mesma. A partir de 1945, foi tomando corpo a chamada Guerra Fria, onde restou clara a polarização principalmente político-ideológica entre os blocos socialista e capitalista, sob a liderança da ex-União Soviética (1922-1992) e Estados Unidos, respectivamente. Tal radicalização pode ser caracterizada na célebre frase: “paz impossível, guerra improvável”, ou seja, um conflito marcado por um permanente tensionamento entre os blocos, com a existência de alguns conflitos armados entre países tidos como “satélites” (Cuba, Vietnã, Camboja, etc.), porém sem o enfrentamento militar direto entre as duas maiores potências do planeta. A Guerra Fria esteve marcada, ainda, pelo surgimento da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), em 1949, bem como do Pacto de Varsóvia (1955), sendo ambos os “braços” bélicos de seus respectivos blocos.

                A Geopolítica do mundo pós-Guerra está intimamente ligada ao surgimento da ONU (Organização das Nações Unidas), em 1945. Ela veio, de certa forma, substituir a malfadada Liga das Nações, já que esta deixara de cumprir com o seu principal papel, qual seja, o de evitar que o mundo do entre-Guerras (1918-1939) se envolvesse num novo conflito de proporções mundiais. Assim, a ONU, vinha com a intenção de, ao menos em tese, pacificar o mundo pós-Guerra, garantindo uma paz que fosse sólida e duradoura. Todavia, desde seu nascimento, tal Organização tem despertado a desconfiança e, não raras vezes, o mais profundo descontentamento junto a muitos países que a compõem. Motivos não faltam para tanto. Um deles é a composição do Conselho de Segurança, principal órgão da ONU. Tal Conselho – formado apenas por Estados Unidos, França, Reino Unido, China e Rússia – tem se revelado autoritário e pouco representativo, pois que o poder de veto de seus membros coloca, muitas vezes, por terra o interesse de quase duas centenas de países. Pressões não faltam no sentido de que se busque mudanças significativas na forma como a ONU vem sendo conduzida. Contudo, ao que parece, o mundo está distante do dia em que povos e nações do mundo inteiro tenham, de fato, tratamento isonômico quando da tomada de decisões que, por vezes, lhes afetam.

                Hodiernamente, vive-se num mundo onde algumas “verdades” são construídas com enorme velocidade, mesmo que em prejuízo de culturas milenares. Alguns autores alegam que a Geopolítica atual é “unipolar” (monopolar, unopolar), onde os Estados Unidos despontariam como única e verdadeira potência, ao mesmo tempo, econômica, política, militar, cultural, etc., da Terra. Exageros à parte, o fato é que, na última década – especialmente após o fatídico 11 de setembro (2001) – temos assistido os EUA (principalmente nos governos que antecederam o de Obama) arvorarem-se como os grandes (únicos!!!) guardiões da democracia contra a eterna “ameaça” do temido Eixo do Mal, este quase sempre representado, de forma preconceituosa, pelos países de cultura islâmica.

GLOBALIZAÇÃO

GLOBALIZAÇÃO
Prof. Gilvan
Blog: profgilvanteixeira.blogspot.com

                Globalização pode ser definida de inúmeras formas. Aqui se adota como conceito, sendo um processo incontrolável, dinâmico e mundial de interdependência, por exemplo, política, econômica e cultural entre os países. Trocando em miúdos: o que ocorre fora de nossa cidade, estado ou país guarda relação, às vezes mais e às vezes menos, com nosso dia-a-dia. Por outro lado, o que fazemos ou deixamos de fazer enquanto indivíduos ou coletividade (país, por exemplo) também se reflete sobre a economia, a sociedade, a cultura e a política de outros povos, por mais longínquos que possam parecer.

                É inegável que o Capitalismo, como modo de produção, fomentou (e foi fomentado, numa relação dita dialética) o processo de globalização. Muitos autores têm assinalado que a origem da mesma encontra-se no período correspondente à passagem da Idade Média para a Moderna, mais precisamente nas Grandes Navegações. À época, vale lembrar, o mundo (em especial a Europa) viveu uma espécie de “desencravamento planetário”, ou seja, restou clara a expansão das fronteiras até então conhecidas. A busca de fontes de matérias-primas e mercado consumidor não apenas reforçou a concentração de riquezas por parte de alguns países, mas instigou o contato – quase sempre nefasto – entre culturas por demais distintas como, por exemplo, a portuguesa e a dos povos que ocupavam o Brasil antes do famigerado “descobrimento”. Mais tarde, já na segunda metade do século XVIII e primeira do XIX, a Revolução Industrial aguçou o processo globalizante. As novas técnicas produtivas e o advento das fábricas, sob o manto do Liberalismo Econômico, permitiram um gigantesco aumento na circulação de mercadorias. O lucro exacerbou-se, fazendo da mais-valia importante argumento em desfavor do Capitalismo. Apesar das lutas operárias, impulsionadas por teorias como aquela defendida nas obras de Marx e Engels, o modelo econômico fundado no mercado não arrefeceu, pelo contrário, expandiu-se pelo mundo afora. A partir de então, não apenas a Inglaterra, mas também outros países da Europa, assim como Estados Unidos e Japão – por exemplo – tomaram a dianteira entre as grandes potências econômicas do mundo. A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) inaugurou uma nova Ordem Mundial, onde o Capitalismo e o Socialismo passaram a disputar a hegemonia sobre a Terra. A Guerra Fria, em que pese o conflito ideológico existente, não foi capaz de frear o processo da Globalização. Esta se fortaleceu, mais ainda, a partir da década de 1970, onde o mundo passou a assistir uma Revolução Tecnológica, onde à medida que se avança em direção aos dias de hoje, cresce a interdependência entre os povos da Terra.

                A Globalização traz consigo inúmeras consequências. Não são incomuns paradoxos. Por um lado, os meios de comunicação têm permitido (para quem pode pagar!) o contato instantâneo entre as pessoas, por mais distantes que estejam. Por outro, nunca foi tão flagrante a frieza e superficialidade das relações. Nunca a ciência e tecnologia estiveram tão avançadas, contudo a fome segue sendo uma terrível e vergonhosa “praga” a assolar enormes parcelas da população mundial. Enfim, os avanços trazidos pela Globalização são inegáveis, assim como o são alguns problemas a ela associados. Globalizam-se, por exemplo, culturas e “visões de mundo” de alguns países em detrimento de culturas locais. Exemplo disso é o conceito de “democracia” imposto ao mundo, democracia esta que casa com os ideais capitalistas, mas não, necessariamente, com os ideais de justiça, solidariedade, fraternidade e igualdade. A “fluidez” e os tempos “líquidos” trazidos pela Globalização se, por um lado, dinamizam as relações e as “horizontalizam”, tornando-as em princípio mais democráticas, por outro lado, o excesso de relativismo põe em risco valores e cria uma perigosa insegurança ética.                 

quinta-feira, 12 de abril de 2012

JOANA D’ARC

JOANA D’ARC
Gilvan
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            Joanas por todos os lados. Gordinhas ou magrinhas, altas ou baixas, letradas ou não, comerciantes ou comerciárias, empregadas ou patroas, tímidas ou extrovertidas, enfim, verdadeira miríade de adjetivos. Em comum, nossas Joanas são, quase todas, donas de casa. Melhor, donas “da” casa! Conquistaram, a ferro e fogo, seu espaço. Arvoram-se, com toda razão, como verdadeiras “rainhas do lar”. Não naquele sentido pejorativo, como que associado a uma espécie de fatalismo adâmico, onde restaria a elas os limites da cozinha ou da área de serviço. São, as joanas, maioria em nosso município: mais de sessenta mil. Invejável contingente! Joanas que, no incomum de suas histórias guardam entre si muitas semelhanças. Guerreiras, sábias, incansáveis, justas, amorosas, sensuais... Joanas que se mostram prontas para o embate da vida, capazes de transformarem a armadura – áspera e pesada – em algo belo e admirável. Joanas que, mesmo diante dos infortúnios que decorrem do simples e (paradoxalmente) complexo ato de viver, geram vida. Joanas que encantam. Cachoeirinha possui muitas Joanas. Nobres ou plebeias, jovens ou anciãs, endinheiradas ou despossuídas. Todas, contudo, heroínas. Não tarda o dia, espera-se, em que nossas Joanas tomarão as rédeas desta cidade. Talvez não de assalto, mas pelo voto. Sonha-se com o dia em que as urnas parirão muitas Joanas. Mulheres fortes, porém sensíveis. Joanas capazes de se sublevarem contra as estruturas que escravizam, que alienam e que oprimem. Mulheres dispostas a sacarem suas lanças e espadas, sem que percam o brilho e, de preferência, sua feminilidade. Joanas que não incorram na perfídia de confundirem o público e o privado. Mulheres que seduzam, mas jamais se deixem seduzir pelo dinheiro fácil e alheio. Joanas que amem e se deixem amar, mesmo que loucamente, mas que jamais dividam o leito com a falta de ética e a desonestidade. Mulheres capazes de embriagarem pela beleza e inteligência, mas avessas à bebida compartilhada com aqueles que enganam e ludibriam o povo. Cachoeirinha precisa de Joanas. A cidade carece de mulheres dispostas à luta e que não prescindam do brilho e da beleza das rosas.  

JUVENTUDE: SUBVERSÃO OU ALIENAÇÃO?

JUVENTUDE: SUBVERSÃO OU ALIENAÇÃO?
Gilvan
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            “Geração perdida”, “analfabetos políticos”, “desregrados”... Além deles, muitos são os termos e expressões usados na caracterização de nossa juventude. Cachoeirinha conta hoje com uma população superior a 110 mil habitantes, sendo que destes, quase 18 mil são jovens entre dezesseis e vinte e quatro anos. Aplicar-lhes os “adjetivos” acima em nada ajuda na construção de uma cidade mais cidadã e humana. Ao contrário, acaba por reforçar alguns estereótipos e preconceitos que sedimentam a não-participação, o ostracismo e a alienação. Quem ganha com isso? Deliciam-se aqueles que tendem à manutenção de um status quo que, historicamente, privilegia alguns poucos em detrimento da maioria. Assim, o clientelismo político pautado em práticas políticas espúrias segue mantendo e fortalecendo relações de cabresto, em flagrante prejuízo do verdadeiro exercício da cidadania. Cachoeirinha precisa, isto sim, constituir-se em município promotor da inclusão social, onde nossos jovens sejam, de fato, ouvidos e, mais do que isso, contribuam de forma ativa e propositiva na construção de um espaço menos injusto, mais seguro e acolhedor. Deseja-se uma cidade que tenha como norte um ensino de qualidade, onde as potencialidades de nossa juventude deixem de ser apenas um eterno “devir” – que jamais chega –, passando à categoria de verdadeira práxis transformadora, capaz de subverter as pérfidas estruturas que alijam a esmagadora maioria de nossa gente. Cachoeirinha necessita gerar trabalho e renda, também, para os de tenra idade. Nosso município precisa criar espaços lúdicos, onde o lazer seja uma prática constante, não um luxo para alguns poucos. Urge multiplicar oportunidades como forma de superação da marginalidade e da violência juvenil. Os espaços públicos devem ser campo fértil para o fazer criativo e desenvolvimento de uma cultura voltada à paz. Sejam bem-vindos jovens de todos os matizes, origens, crenças, etnias, posições ideológicas. Construamos uma cidade onde, ao invés da desesperança, frutifique a utopia, onde as rosas encham não apenas o imaginário, mas cada jardim e cada praça, fazendo crer que o belo ainda é possível. 

quinta-feira, 5 de abril de 2012

ROSAS: ESPINHOS QUE ENSINAM

ROSAS: ESPINHOS QUE ENSINAM
Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com


Quem já não cravou um espinho no dedo? Dói, não há como negar. Espinho de uma rosa, então...  A dor nasce não apenas da carne ferida, mas talvez da inegável decepção de ver tão bela e romanceada flor ferir a mão de quem a plantou, cuidou e regou. Passado o susto, logo se vê que aparente traição nada mais é do que ensinamento para a vida. Nem poderia ser diferente. A natureza da rosa é eterna. Apesar dos espinhos, não é ela quem fere. Somos nós, pobres mortais, que nos deixamos ferir, mesmo que inconscientemente. Alguns chamam de destino tal sina. Os espinhos da rosa têm enorme e especial jeito de ensinar. Ensinam que o amor é sempre belo, apesar de – às vezes – amargo e sofrido. Amor nem sempre se confunde com prazer. O desconforto é, por vezes, necessário. O amor exige, não muito raro, abnegação, renúncia, arrependimento. Requer um “voltar atrás” de vez em quando. Amar é falar a verdade, mesmo que para tanto se corra o risco de arrefecer a relação. Esta, quando sólida, como rocha, aguenta até mesmo as mais duras intempéries. Eventuais abalos, muito antes de revelarem fraqueza, denotam força, revelam confiança e só reforçam a certeza de que se está em porto seguro. A rosa, com seus espinhos, revela nossa natureza, humana. Revela, ainda, nossos paradoxos, fraquezas, ambiguidades e incertezas. A dor que nasce dos espinhos, por mais lancinante que para alguns possa parecer, é como que “dor de crescimento”. Não fosse ela, os dias, os aprendizados... tudo, absolutamente tudo, passaria despercebido. Seríamos eternamente ingênuos, nanicos do ponto de vista ético e espiritual. Precisamos dos espinhos da rosa. Cachoeirinha necessita semear flores que motivem crianças, jovens, adultos e idosos a construírem sonhos. Hoje, de areia quem sabe. Amanhã, talvez, sonhos que se transformem em novas verdades. Não certezas do tipo totalitário, mas relativas. Não verdades que, como ervas daninhas, sufocam as demais. Mas convicções que fomentem o embate de ideias e instiguem a tomada de decisões que sejam, de fato, coletivas. Deseja-se que os espinhos despertem para a vida, desacomodem, subvertam. Espera-se que, ao final, seja a rosa lembrada pelo aroma que exala e, sobretudo, pelos espinhos que ensinam.