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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

EJA: PARA ONDE VAMOS?

EJA: PARA ONDE VAMOS?
Gilvan



Na última sexta-feira de novembro do presente ano, professores e responsáveis por alguns setores (SSE e SOE, por exemplo) reuniram-se para discutirem acerca da Educação de Jovens e Adultos (EJA). O objetivo era traçar como que um “perfil” do aluno que hoje freqüenta tal modalidade de ensino na Escola Municipal de Ensino Fundamental Getúlio Vargas. Tarefa difícil, afinal corre-se o sério risco de enveredarmos para uma espécie de “reducionismo”, simplificando demasiadamente algo que é deveras complexo. Bom seria, quiçá, falarmos em “perfis” da EJA, tamanha é a diversidade encontrada junto aos bancos escolares do ensino noturno de nossa Escola. Sim, diversidade étnica, sexual, etária, religiosa, política, econômica, entre tantas outras. Portanto, o que se busca aqui é tão somente esboçar uma espécie de “aluno médio”, talvez facilitando a elaboração de estratégias comuns voltadas à melhoria da qualidade do ensino que é ofertada na EJA.

A maior parte dos educandos da EJA da EMEF Getúlio Vargas é formada por adolescentes, realidade esta presente – ao que parece – em quase todas as instituições públicas municipais que ofertam o ensino noturno, independentemente da modalidade. Percebe-se aqui uma significativa mudança de perfil comparado há alguns anos. A EJA, antes “supletivo”, atendia principalmente a adultos trabalhadores que não haviam tido acesso à educação básica em idade própria. Hoje, não apenas os adultos são minoria, como os adolescentes estão afastados do mercado de trabalho, seja ele formal ou informal. Se por um lado, a EJA “renovou-se” do ponto de vista etário, por outro, descaracterizou-se, afastando-se em grande parte de seu propósito original. A esmagadora maioria do alunado da EJA de nossa Escola é oriunda das classes diurnas. São adolescentes maiores de quinze anos que foram, consciente ou inconscientemente, deportados do dia para a noite. Quanto aos motivos para tal prática, são inúmeros: alto índice de reprovação, causando uma enorme defasagem idade-série, o que dificulta a convivência entre o adolescente e o restante do grupo; inabilidade do corpo docente em lidar com os adolescentes; indisciplina escolar, fazendo com que a Escola opte pelo caminho aparentemente mais “curto”, qual seja, o do simples deslocamento do “aluno-problema” do dia para a noite; situações de vulnerabilidade social; necessidade do adolescente em buscar uma fonte de renda durante o período do dia; descontrole e falta de compromisso de algumas famílias com os adolescentes, criando-se uma falsa cultura de que a mera transferência destes últimos para o noturno significa o término da responsabilidade moral e jurídica em relação à prole; etc.

O contexto acima tem engendrado inúmeras situações de conflito entre a EJA que se tem e a que se quer. Há, indiscutivelmente, um oceano de distância entre o real e o ideal. Tal situação tem levado, por exemplo, alguns professores da EJA à exaustão física e psicológica, corroborando um sentimento de pessimismo quanto ao futuro dessa modalidade de ensino. Alguns alegam que há, entre outras conseqüências, um permanente conflito de gerações, onde os alunos mais velhos acabam por desistir da EJA frente à pretensa natureza “indolente” e “indisciplinada” dos mais jovens. O “vazio” (aparente ausência de quaisquer compromissos) característico (às vezes “estereotipada”) da adolescência afronta a visão de mundo dos mais velhos. A infrequência e evasão escolares, tão comuns na EJA, constituem outro sério problema a ser enfrentado. Chama atenção o caso dos mais jovens, pois que estão como que num limbo, nem céu, nem inferno. Nem evadem, nem freqüentam! Levas e mais levas de alunos (hoje, talvez, a maioria...) optam por uma espécie de vai-e-vem. Afastam-se da Escola por muitos dias seguidos e, após a ameaça de “prestação de contas” junto ao Conselho Tutelar ou a um que outro magistrado, retornam para sala de aula por alguns  dias. Dali pouco tempo, o ciclo se refaz. As conseqüências disso são trágicas, tanto do ponto de vista pedagógico quanto social. Pedagogicamente, o tempo perdido mostra-se irrecuperável, levando quase sempre à reprovação por faltas ou por insuficiência de rendimento. Elevam-se os índices de repetência, passando uma imagem de incompetência do corpo docente, da Escola, da mantenedora e do Poder Público como um todo. Quanto aos desdobramentos sociais, intensifica-se o grau de vulnerabilidade desses jovens, ficando à mercê do consumo de drogas, da delinqüência juvenil e da prostituição, por exemplo. Ante o exposto, surge e alimenta-se um jogo de “empurra-empurra”. Os atores envolvidos acusam-se mutuamente. “Bodes expiatórios” nascem, conforme o ponto-de-vista de quem faz a “leitura”. Hora a culpa recai sobre o aluno, hora sobre o educador, outras vezes sobre a família. Hora sobre a mantenedora e o Poder Público como um todo. Vez por outra sobre toda a sociedade. A busca de culpados, quase sempre, acaba por cegar e entorpecer os sentidos, prejudicando e anuviando a busca de saídas. Estas últimas passam, necessariamente, pela aceitação de que o problema é de todos, trata-se de uma responsabilidade compartilhada. Não se quer achar “culpados”, mas alternativas que mitiguem o problema.

A “falência” da EJA é algo já dado por muitos. Salas de aula vazias, altíssimos índices de reprovação, aprendizado pífio. O custo social das escolas de EJA é elevadíssimo. O contribuinte tem pago (caro!) por uma estrutura física e humana que não tem dado conta da aprendizagem dos alunos. Não ficaríamos espantados se mais escolas de EJA fechassem. Por certo cabe ao Poder Público o dever constitucional de garantir o acesso e permanência do aluno em escola pública de qualidade. Cabe à mantenedora fornecer os meios indispensáveis à manutenção de uma escola que dê conta das demandas existentes: espaços pedagógicos adequados, recursos tecnológicos modernos e eficazes, profissionais qualificados e em constante aprimoramento, formação e manutenção de uma “rede” de atendimento aos alunos com dificuldade de aprendizagem, “inclusos” e/ou em situação de vulnerabilidade sócio-econômica. Cabe ao educador, por exemplo, transformar teoria em prática; casar o discurso com a própria conduta; debruçar-se sobre a pesquisa; apropriar-se das novas tecnologias; dar vida (através de projetos) aos certificados obtidos, não raras vezes, com o dinheiro público; fazer dos cursos de formação não apenas um meio de obtenção da promoção por merecimento ou mudança de nível mas, sobretudo, um meio de qualificação de seu trabalho, com resultados práticos sobre a aprendizagem. Cabe à família exercer seu papel moral e legal de primeira instância de formação do adolescente, ensinando acima de tudo valores como honestidade, respeito, ética, solidariedade e alteridade; deve ela participar ativa e permanentemente da vida escolar do aluno, comprometendo-se com a aprendizagem do mesmo; precisa solidarizar-se e tornar-se cúmplice do processo pedagógico; deve buscar, sempre que preciso, os meios “além-escola” objetivando o atendimento integral do adolescente. A este, por sua vez, cabe assumir responsabilidades, comprometer-se com os estudos, respeitar os princípios de convivência existentes na Escola, buscar superar eventuais dificuldades de aprendizagem com esforço e dedicação, ser pontual e responsável na entrega das atividades solicitadas, entre outros.

O embrutecimento e “imbecilização” do aluno da EJA precisam ser rompidos. Mister é se aprofunde a articulação entre todos os que participam, direta ou indiretamente, do processo de formação do educando: profissionais da educação, família, aluno, Poder Público, sociedade civil organizada. No que tange ao ambiente escolar, mostra-se indispensável o planejamento permanente. Os encontros devem ter objetivos, principalmente, pedagógicos, instigando as “trocas” entre os diversos componentes curriculares, fomentando os múltiplos “olhares” em relação ao aluno, buscando saídas cooperativas, interdisciplinares, transdisciplinares, etc. A responsabilidade sobre o “não-aprender”, como já dito, é de todos. O sucesso ou fracasso do aluno é, indubitavelmente, o sucesso ou fracasso de todos. Ganham ou perdem todos. A Proposta Político-Pedagógica (PPP) deve deixar de ser um mero calhamaço de papel desconhecido pela comunidade escolar, passando a ser energia viva voltada às transformações necessárias. Para tanto, é necessário que haja, de fato, a participação do coletivo. Este precisa ser não apenas ouvido, mas auscultado. A comunidade precisa apropriar-se do espaço escolar. As “competências” de cada segmento precisam ser respeitadas. A EJA, ao contrário do que ocorre hoje, precisa preparar o educando para a vida, para o trabalho, para o exercício pleno da cidadania.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O GRENAL QUE NÃO TERMINOU

O GRENAL QUE NÃO TERMINOU
Gilvan



            Ainda esses dias, meu guri – no auge dos seus oito anos – havia dito algo que, inicialmente, parecia sem nexo algum. Porém, pensando bem, achei que a “gafe” poderia dar ensejo a uma história. Dizia ele que o primeiro grenal teria sido em 1544. Coitado, virou motivo de chacota da irmã mais velha, esta alucinada por livros. Meio sem jeito, buscando desviar o assunto, deu-se conta o pobre Matheus da aparente asneira. Ora, 1544 era uma data remota em demasia – por maior que fosse o exagero – para ocorrência da mais conhecida rixa do mundo futebolístico. Será?

***

            À época, o que é hoje o Rio Grande do Sul não passava de uma terra a ser desbravada. Ocupavam esta área algumas tribos indígenas, grupos estes que rivalizavam entre si. Durante gerações, charruas e minuanos se digladiavam feito ximangos e maragatos. Tudo era motivo para disputa: mulheres, espaço, comida. A situação tornara-se de tal forma insustentável que o simples ato de banhar-se no Grande Lago, hoje Guaíba, era por demais arriscado. Certa feita a filha do cacique minuano mergulhava nas lânguidas águas, nua em pêlo, quando sentira um par de olhos posto sobre ela. Assustada, buscou refúgio junto a alguns igarapés, na infrutífera tentativa de esquivar-se do suposto indolente. Mal sabia ela que o dono do olhar era o jovem herdeiro da tribo inimiga. Mais parecia armação do destino. Ironia dos deuses. Não fora por falta de aviso dos anciãos de ambas as tribos, pois que há gerações advertiam os mais jovens de jamais se aproximarem do lugar. Era arriscado. Perigoso. Muitos eram os causos que buscavam associar o Grande Lago a seres mitológicos e assustadores. Contudo, ao que parece, os jovens haviam se deixado levar pelo espírito aventureiro que move os corações dos mais moços. Uma falha que, talvez, pusesse em risco não uma, mas duas nações inteiras. Apesar dos esforços de ambos – dela, tentando esconder sua nudez e dele, buscando não se deixar ver por aquela bela jovem –, o que parecia impensável aconteceu. Amor à primeira vista. Apesar das atávicas barreiras culturais e lingüísticas, em que pese a histórica rivalidade entre os povos, os corações entrelaçaram-se. O simples olhar era mais do que suficiente para comunicar o que pensavam, o que sentiam... Ruborizada, a jovem ficou inerte. Só sorria. Ele, por sua vez, não conseguia disfarçar o tum-tum acelerado a batucar-lhe o peito. A escassez de roupa não os inibia, pois que a natureza os tornava puros, alheios aos pecados que, mais tarde, os europeus introduziriam nestas terras. Não se tocavam. Guardavam alguma distância, insuficiente para cada qual perceber as alterações no corpo do outro. Ainda sorrindo, despediram-se num breve aceno de cabeça. Não demorou muito para os anciãos desvelarem o segredo. A paixão dos jovens era notória. Não diziam coisa com coisa. A cabeça parecia descolar do corpo. Os olhos miravam o nada. A pergunta que todos faziam, em ambas as tribos: quem era ele(a)? Por óbvio, não imaginavam o que o destino lhes reservava. A pajelança até que tentou buscar a resposta nas forças da natureza. Sem sucesso. A mãe terra e os irmãos pássaros mantinham-se mudos, parece que decididos pela cumplicidade naquele amor proibido. Quem sabe, ali a chance de pôr fim às antigas rixas e batalhas a mancharem de sangue os verdes campos enfiados entre os morros do que é hoje a capital gaúcha. O coração do índio, contudo, parecia decidido a não comungar da mesma idéia. Ao contrário. Ao saberem da intenção dos jovens, as tribos puseram-se em pé de guerra. Todos os guerreiros pintados, andando em círculos, num frenesi interminável. A música era cadenciada pelo som dos tambores improvisados. Um, dois, três dias... Preparação e invocação das divindades para a proteção contra o pérfido inimigo. Finalmente, o grande dia. O “juízo final” dos pampas. O Grande Lago seria tomado pela cor púrpura do sangue adversário. Os jovens – motivo de tão grande desavença –, por sua vez, permaneceram nas tribos, sob os cuidados das mulheres. Aflitos, lembravam do último e único encontro, às margens do Lago. Enquanto isso, o tabuleiro estava preparado para o embate. Apesar da distância, restou claro que ambas as tribos traziam no corpo as mesmas cores, apesar das insígnias típicas de cada um. Temia-se pela confusão que isso poderia gerar. Vai que um desgraçado, mais descuidado, desferisse seus golpes contra sua própria gente. Como resolver o impasse? Um guerreiro, por demais franzino, de canelas finas, não titubeou: por que não um jogo? “Jogo”? Como assim? Sim, um jogo entre duas equipes em campo neutro: ao vencedor, toda a terra fértil, do nascente ao poente, passando pelo que é hoje a Azenha. Quanto ao perdedor, restaria habitar as profundezas do Grande Lago. Feito o acordo, só faltava decidir as cores de cada equipe. Os charruas optaram pelo escarlate. Já os minuanos, mais sóbrios, tomaram para si a cor do céu, azul feito anil. Este último, acompanhado do preto que riscava o corpo dos guerreiros e do branco que estampava aqueles olhos atentos, formava uma espécie de arco-íris tricolor. A pelota surgiu não se sabe de onde. Era uma pequena esfera envolvida por couro e recheada de folhas de bananeira. As goleiras não passavam de armações de taquara. Tudo pronto para a partida. Mal soara o assobio vindo sabe-se lá de onde, a partida começou. Uma tragédia. Acertavam tudo, menos a bola. Vez que outra, era um uivo de dor aqui, um grito ali ou acolá. As pernas da indiarada mais pareciam um porongo, tal o inchaço. Gol que era bom, nada. A tal ponto do goleiro de um dos times se dar ao luxo de sentar sobre os próprios calcanhares e puxar o charuto que trazia consigo. Era mais fácil sair um enfartado dali do que a bola cruzar por entre as varas. Apesar do entusiasmo das duas torcidas e dos rituais xamânicos, o placar seguia inalterado. Zero a zero. O jogo seguia insosso. Aos poucos o sono ia tomando conta daqueles olhares antes atentos. Diante da ausência de um juiz que arbitrasse a partida, esta seguia feito pluma ao vento, sem direção, ao sabor dos alísios. Já exaustos, os desafiantes mal se agüentavam em pé. Não corriam, sequer andavam. Titubeavam, ziguezagueando feito ébrio saído de bar. Finalmente, alguém teve a feliz idéia de estipular um tempo para a partida. Tempo? As tribos pareciam desconhecer tal conceito. Ainda assim, com a anuência dos anciãos tanto de minuanos como de charruas, foi acordado que a peleia se estenderia até que o Grande Disco deitasse sua cabeça por detrás do vale. Contudo, apesar do esforço hercúleo daquela gente, o destino das tribos seguia indefinido. Decidiram deixar que os deuses lançassem a sorte de cada um. Como? No palito! Aquele que tirasse o maior pedaço, sua tribo se consagraria vencedora. À outra, restaria o ostracismo. Por fim, os minuanos levaram a melhor, cabendo-lhes os verdes campos junto à Azenha. Quanto aos charruas, sobrou-lhes as profundezas do Grande Lago. Naquele lugar brejeiro e pantanoso é que passariam a viver os infelizes, abandonados à própria sorte. Condoídos pelos dissabores da tribo inimiga, os minuanos decidiram por auxiliá-los na empreitada de aterrarem área tão imprópria. Foram dias, meses, anos de trabalho incansável. Como forma de gratidão, os charruas propuseram um acordo de paz permanente, selado pelo enlace matrimonial entre os jovens que, noutros tempos, haviam sido o motivo da discórdia. Assim, finalmente, parecia nascer um novo tempo para aquelas tribos, reais fundadoras da dupla grenal.

A ELEIÇÃO

A ELEIÇÃO
Prof. Gilvan

            A cada três anos era a mesma coisa. O discurso politicamente correto cedia lugar às palavras pouco amistosas. Professores viravam gladiadores da pior espécie. A mão que antes afagava, agora deixava às claras o dedo em riste. O braço amigo de outrora, duvidasse, agora riscava o vazio à procura do queixo desafeto. Ontem, amigos. Hoje, ferozes adversários. Não fosse a placa indicando tratar-se de uma escola, diriam ser uma arena. O palco da discórdia a opor, de um lado, chimangos e, de outro, maragatos. Oponentes pobres de ideologia e vazios de princípios. Em volta, assistindo a tudo, alguns olhinhos inocentes, outros nem tanto. Em comum, o sentimento de que algo estava errado. A cordialidade professoral – normalmente entre os próprios pares (haja visto o corporativismo, às vezes, doentio e retrógrado) –, antes reinante, era preterida em nome de uma opacidade relacional, um clima por demais pesado. Os alunos, impotentes, pareciam assistir a tudo, como sem acreditar. Embora tenros, desde muito cedo sabiam a diferença entre discurso e prática. Só esta última os convencia. No mais, eram só palavras vazias, destituídas de alma, ocas feito bambu. Alguns pequerruchos, mal tinham largado as fraldas, já se viam cercados de aliciadores, sequiosos por votos. Alunos que há pouco recebiam os safanões da Direção e de seus mestres, agora eram tratados a pão-de-ló. Antes, excluídos, mal-criados, delinqüentes, indisciplinados. Agora, miraculosamente, quase anjos. Não faz muito, eram apenas números. Repentinamente, passaram a ser chamados pelo nome e, inacreditavelmente, pelo sobrenome. O “terrível” da setenta e três virou Pedro Henrique. O “tinhoso” da cinqüenta e um passou a ser o Matias. Até linhagem receberam. O “impossível” da vinte e dois, de repente, virou o Lucas Alberto de Oliveira Prado, filho do Seu Carlos, o pedreiro do Beco Dezesseis. Os tempos, em período de eleição, de fato eram outros. Os semblantes, antes hermeticamente fechados, abriam-se. Sorrisos, abraços e apertos de mão eram largamente distribuídos, exceto para os adversários. A Sala dos Professores, antes uma babel de assuntos em meio ao comércio intenso de langery e compotas de pêssego, agora mais parecia velório. Um desconfiando do outro. A salvo, só o morto. A balbúrdia que antes ofendia aos ouvidos fora trocada pelo silêncio sepulcral. Olhares desconfiados varriam o lugar. Poucos se aventuravam a se manifestar. Vai que fossem mal compreendidos. Preferiam o silêncio, ao risco de serem acusados de traição. As poucas palavras que surgiam, mais pareciam sussurros. Até o bater das asas de uma varejeira se fazia ouvir por todos. Os poucos corajosos que compunham a Comissão mais pareciam pisar sobre ovos. Controlavam até a própria respiração. Qualquer deslize e pronto! Anos de trabalhos prestados eram esquecidos. De herói a vilão, num piscar de olhos. O que era para ser um momento sublime de discussão, estreitamento do diálogo, acolhida, reflexão, passava a ser motivo de afastamento, degeneração das relações e frouxidão da ética. O precioso tempo que deveria ser usado para impregnar o ambiente escolar de novas idéias e busca de soluções passava a ser um tempo subtraído da gurizada em desfavor da comunidade escolar. O que era para ser aprendizado e exercício da democracia passava a ser motivo de repúdio, asco e vergonha. Para quê democracia? Para quê liberdade? O recado que teimava em ficar para os pequenos era o de que a “gestão democrática” não passava de falácia. Respeito, alteridade, cumplicidade com a verdade, pareciam ser conceitos meramente livrescos. Perdia-se a oportunidade de fazer da escola um espaço de aprendizagem e de construção da cidadania. Os olhinhos, antes reluzentes feito estrelas, iam aos poucos perdendo o brilho. A esperança parecia querer escapar da caixa de Pandora, esvair-se em meio àquela que deveria ser o lúdico espaço da criação, da dúvida, da curiosidade e da construção da cidadania. 

terça-feira, 15 de novembro de 2011

AS ZONAS POLARES

AS ZONAS POLARES
Prof. Gilvan Teixeira


            A Terra, planeta onde vivem cerca de sete bilhões de pessoas, é formada por seis continentes: Ásia, América, África, Antártida, Europa e Oceania. Parte dela está situada em altas latitudes (distância, em graus, de um ponto qualquer da Terra em relação à linha do Equador). São as chamadas Zonas Polares. No hemisfério sul, compreende a Antártida, enquanto no hemisfério norte compreende, por sua vez, a Groenlândia, o norte do Canadá, do Alasca, da Rússia e dos países escandinavos (Suécia, Finlândia e Noruega), além de inúmeras ilhas. As Regiões Polares estão marcadas pela elevada pressão atmosférica, assim como pela presença de enormes massas de ar frias e normalmente secas. Quanto ao clima, tais paisagens possuem apenas duas estações, quais sejam, inverno e verão. Esta última, especialmente junto aos pólos, chega a ter até seis ininterruptos de sol brando, com temperaturas médias que não ultrapassam os 100C. Quanto ao inverno, as Regiões Polares chegam a presenciar até seis meses ininterruptos de escuridão, sem a presença do Sol, com temperaturas médias de -300 a  -500C. Em regra, vale lembrar, as temperaturas na Antártida são mais baixas do que na Zona Polar norte, devido à altitude, já tendo chegado aos impressionantes -850C. No que diz respeito ao solo das Regiões Polares, mostra-se praticamente inexistente. Quando aparece, é pobre, impossibilitando a formação de uma vegetação mais densa e exuberante, muito menos a prática da agricultura. No Ártico, temos a presença da tundra, esta formada por musgos e liquens. Quanto à fauna, na Antártida é menos variada do que no Ártico. Enquanto no extremo sul do planeta merecem destaque os leões-marinhos, focas e algumas espécies de aves (pingüins, gaivotas e albatrozes, por exemplo), no Ártico por sua vez têm destaque os ursos, caribus, lobos e doninhas. Do ponto de vista hidrográfico, a Zona Polar norte possui um bom número de rios, congelados a maior parte do ano. Já na Antártida, os rios inexistem aparentemente. No que tange à população, na parte mais setentrional da Terra, merecem destaque alguns grupos tradicionais como, por exemplo, esquimós e lapões. É bem verdade que, principalmente a partir das últimas décadas do século XX, um significativo número de outras pessoas passou a ocupar a região, em busca das inúmeras riquezas minerais lá existentes. A Antártida, ao contrário, não possui qualquer grupo humano próprio. As pouquíssimas pessoas que nela estão são cientistas oriundos de alguns países, inclusive o Brasil, em busca de pesquisas, algumas por demais relevantes para a compreensão deste fantástico planeta em que vivemos. Apesar de oficialmente a Antártida não pertencer a nenhum país – conforme previsto no Tratado da Antártida (1959), válido até o ano de 2041 –, sabe-se, contudo, que algumas grandes potências vêm demonstrando forte interesse em se apropriarem das invejáveis riquezas e pontos estratégicos da região.
OBS: O texto acima está baseado em VESENTINI, José William. Sociedade e Espaço. São Paulo: Ática, 2004.

domingo, 13 de novembro de 2011

TETÊ, UMA MULHER DE VISÃO

TETÊ, UMA MULHER DE VISÃO
Gilvan Teixeira


                Não faz muito, enterramos uma querida tia. Tetê há muitos anos convivia com a cegueira, limitação que a impossibilitava de enxergar, mas não de “ver” de forma muito mais clara do que muitos que possuem olhos, porém não vêem. Tia Tetê, casada com o velho Mano, era uma mulher feliz. Sim, feliz e sábia. Ensinara as filhas não apenas com palavras, mas acima de tudo com ações marcadas pelo respeito, ética, honestidade, gentileza, solidariedade. Não foram poucos os por ela auxiliados a transporem a estrada da vida. Via, como poucos, os sinais vermelhos impostos pela vida, respeitando-os, porém sem se deixar derrotar pelas agruras de um pretenso destino . Tetê parecia ter suprido a deficiência visual com uma invejável capacidade auditiva. Não ouvia, auscultava. Sons que eram imperceptíveis aos ditos “normais”, para Tia Tetê diziam muito. Outros sentidos não deixavam por menos. O que dizer do tato. Aquela mulher franzina, de voz calma, dissecava tudo a sua volta. Sentia a forma, a textura, o volume, a massa... Parecia saber até a cor. Não a conhecessem, diriam que enxergava, tal era sua capacidade de descrever, em detalhes, tudo a sua volta. A mulherzinha era tinhosa. Porém, o que mais chamava atenção era a memória daquela senhora, aparentemente frágil. Datas de aniversário, sabia todas, inclusive as do que já haviam partido desta para uma melhor. Fatos históricos, receitas culinárias, causos antigos, “segredos” de família... Até a tabela do Brasileirão. Seu único pecado era ser torcedora do Inter. Talvez aqui, seu único ponto em comum com o Mano. Fora isso, vivia a ralhar com seu velho companheiro. Estava nos genes. A mãe, Dona Ina, era a mesma coisa. Não poupava o coitado do Juca. O que eram, porém, aquelas rusgas perto do amor que unia a Tia Tetê e o Tio Mano durante todos aqueles anos? Mais de cinqüenta. Um era a bengala do outro. Amavam-se. O que mais incomodava a Tetê era a maldade humana. A pequenez da alma. A urdidura que enriquece alguns poucos em detrimento da maioria. Entendia de política como poucos. Dava seus pitacos. Queria ver o Sarney e o FHC, por exemplo, bem longe. Para ela, o Congresso era uma pocilga. Não entendia, melhor, não aceitava que homens e mulheres públicos, todos a falarem em nome do “povo” se prostituíssem por sobre um leito tomado de lama, malversação de recursos, confusão entre o público e o privado. Não admitia a promiscuidade partidária, nem tampouco a astronômica diferença entre discurso pré-eleitoral e a práxis de gabinete. As práticas espúrias tão comuns no cenário político-administrativo de hoje, para Tetê eram imperdoáveis. Afinal, mesmo cega, parca em recursos, jamais havia se apossado do que não lhe pertencia. Assim educara as filhas. Mesmo nas horas mais difíceis, quando a morte batia à porta, Tia Tetê em nenhum momento buscou burlar a vida, seja a sua, seja a de outrem. Tetê, saudosa Tia, que sua vida sirva de exemplo neste mundo tão pobre de espírito. Fica não apenas a saudade, mas um exemplo de virtude.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

CME: 20 ANOS



CME: 20 ANOS
Prof. Gilvan



                Numa sociedade que vem buscando transformar as garantias constitucionais em situações reais, inquestionável é a importância dos chamados Conselhos de direito. É nesse contexto que deve ser entendido o Conselho Municipal de Educação (CME). Este vem, ao longo de sua história, se constituindo em instância privilegiada de discussão acerca das inúmeras demandas que envolvem a educação, em especial no âmbito do Município (Cachoeirinha). É com alegria que o CME lança o seu primeiro Informativo. Boa leitura.

http://educacao.cachoeirinha.rs.gov.br/conselho/pareceres/INFORMATIVO_CME_20_ANOS

terça-feira, 8 de novembro de 2011

FILHOS E BASTARDOS

FILHOS E BASTARDOS
Gilvan Teixeira


            Quem ama, disciplina. Importante premissa de uma relação pautada no amor. Quem ama, exige. Infelizmente, tem sido cada vez mais comum a (de)formação de levas e levas de “bastardos”. Crianças e adolescentes abandonadas. Jogadas às traças da permissividade, da sensualidade convidativa à lascívia precoce, da condescendência irresponsável que acoberta e acaba por instigar o consumo de álcool e outras drogas, lícitas ou não. O papel de pai ou de mãe tem se confundido com o de apenas mais um “amigo”, um “parceiro” ou algo que o valha. Na fútil tentativa de “aproximar-se” dos filhos, muitos têm confundido de tal sorte os papéis que, não raras vezes, mal se distingue quem é a criança/adolescente e quem é o adulto. Homens e mulheres que vestem, falam e se portam como se o tempo não tivesse escoado. Assim, deixam de ser referência. Já não servem de norte. Condenam os pobres mancebos à desorganização afetiva, cognitiva, material... Até tarefas das mais básicas como preparar um lanche ou lavar a própria roupa íntima passa a ser um desafio intransponível para quem já tem idade para tanto. O tempo que lhes falta para os estudos e para as tarefas domésticas, sobra para os bate-papos nem tão inocentes ou sadios nas ditas redes sociais, onde são peixes, digo, presas fáceis de gente mal intencionada. Pedófilos, surrupiadores de coisas alheias, sórdidos e criminosos de toda monta – vale lembrar – um dia foram criança. Apostaria todas as parcas fichas que possuo que, quase todos eles, foram não filhos, mas bastardos. Destituídos de disciplina e de boa referência. Gerar filhos (mesmo que afetivos, e não necessariamente genéticos) é um ato de responsabilidade. Multiplicar bastardos, ao contrário, prescinde de qualquer esforço, exceto o de ordem sexual. Nascem como moscas, proliferam por todos os cantos. Logo crescem e invadem as ruas, picham muros e fachadas, enfiam-se em meio a becos escuros e fétidos atrás de um “barato”, mesmo que fugaz. Esquecidos à própria sorte, abandonados pelo Estado e relegados pelo “sistema”, simplesmente existem. Um dia após o outro, até que a morte – cedo ou tarde – os encontre. Há solução? Talvez não. Contudo, cabe à sociedade como um todo, mas principalmente à família a busca de alternativas que mitiguem sensivelmente o problema. Mister é que se resgate o papel de pai, de mãe, de cuidador. Imprescindível é que os pais lancem um olhar “viajante”, permanente, profundo sobre aqueles que estão sob seus cuidados. Muito além de uma questão “legal”, é uma questão moral e ética. Inadiável é o resgate (talvez, a própria “construção”...) da disciplina, da sadia e bem aplicada verticalização das relações. Democracia não pode ser confundida com permissividade. Esta é promíscua e danosa. Corrói como câncer. Destrói o organismo vivo que é a sociedade. Acaba com os sonhos e instala o pesadelo de um mundo governado por zumbis e bastardos.

Veja, também:
http://www.sinepe-rs.org.br/core.php?snippet=newsletter&idNews=15512&idPai=554&id=15519

sábado, 5 de novembro de 2011

A ponte

A PONTE
Gilvan Teixeira



            Enquanto andava, como que a esmo, lembrava daqueles tempos. O vai-e-vem frenético dos carros a riscarem a Flores da Cunha nem de perto lembrava o tempo em que era piá. O ronco barulhento dos caminhões e ônibus há muito suplantara a voz daquelas pessoas que iam e vinham de todos os lados. Anônimos, na maioria, sem vez e sem voz. Isso continuava, como quando era criança. A Câmara de Vereadores já não era a mesma, nem a Prefeitura, nem tampouco o Fórum. Os suntuosos prédios dos ditos Poderes constituídos pareciam debochar da atávica miséria de muitos. Seguiam, os esquecidos, perambulando. Sustentados por uma paralisante esperança que embota os sentidos. O caminhar manso daquele homem contrastava com o andar nervoso do relógio. Este perdera não apenas os ponteiros, mas o charmoso tic-tac que cadenciava os corações de antigamente. Hoje, tudo passara a ser digital. Virtualizou-se as relações, tornando-as mais descartáveis do que nunca. A tranqueira, todas aquelas máquinas a fazerem incisões no asfalto, o barulho impaciente das buzinas, a sirene das ambulâncias prenunciando a morte dos preteridos pelo “sistema”... Tudo parecia incomodá-lo. Talvez estivesse ficando velho. O que para alguns era o progresso, para ele era simplesmente vaidade desmedida. Aqueles operários a rasgarem as entranhas da terra. Era como se cada pedaço retirado fosse uma peça de seu próprio passado. Um tempo que se ia, feito os nacos de concreto jogados sobre aquelas caçambas. A cada passo que dava, fragmentos de tempos idos. Um mosaico imperfeito embalado por um misto de saudade e de tristeza. Mais do que simplesmente nostalgia. Era comiseração. Autocomiseração. Pena de si e dos outros. Dó da humanidade. Esta parecia definhar em meio ao próprio estrume. Ainda lembrava da velha ponte que, quando guri, atravessava sob a companhia do pai. Formava-se uma pequena fila. Um carro por vez. Lá embaixo, o Gravataí. Parecia maior. O Tonico alinhava o TL sobre aquele estreito corredor de madeira, cercado por uma estrutura de ferro. As tábuas pareciam soltas. O friozinho na barriga era inevitável, porém gostoso. Adorava aquilo. O que seriam das viagens da capital à Cachoeirinha sem a velha ponte? Ela se fora, da mesma forma que o pai. Enquanto andava, lembrava daqueles tempos.

A Prova

A PROVA
Prof. Gilvan

            Alvoroço. A turma do Médio ficou em polvorosa quando soube que a Prova estaria ali, disponível, a não maior distância do que aquela que separa o corpo em relação ao teclado do computador. Logo, multiplicaram-se as especulações. Um que outro dizia ter lido o conteúdo da Prova. Batata! Estariam salvos. Ainda mais naquelas alturas, quando o ano entrava em seu ocaso. Os mais mentirosos (“criativos”, para os pais...) faziam até questão de passar adiante o falso gabarito: “A, de anta; B, de besta; C, de....”.   Estudar? Para quê? Bastava logar-se na internet e pronto! Como num passe de mágica, as portas da esperança se abririam. Aprender, que nada. Bastava a aparência. Mais valia um boletim recheado de notas “azuis”, mesmo que beirando a mediocridade, do que o conteúdo de fato apreendido. Garantia-se, assim, não apenas o final de semana, mas também a participação no campeonato. A notícia correu a escola. Criou-se, inclusive uma teoria da conspiração. Diziam alguns que o danado do Rudi é que teria sabotado o pobre do professor. Embalado pela má fama do ENEM, o guri teria dado um jeito de apropriar-se da prova e, não contente, postara no mundo incontrolável da web o gabarito da dita avaliação. Não demorou muito para a notícia se espalhar. Verdadeira reação em cadeia. As redes sociais beiraram o colapso, tão grande era o número de “acessos”. A morte do Kadafi, a crise na Grécia, o eterno conflito árabe-israelense... Até o mais novo romance daquela modelo internacional, tudo não passava de ínfima fagulha frente ao “incêndio” provocado pela notícia nascida em meio ao Rubem Berta. Diziam, inclusive, que fora lançada a sorte diante das situações que se criaram. Tudo era motivo de aposta para os mais fanáticos. A jogatina teria corrido solta. Conta-se que um jovem professor teria montado uma banca: alguns jogavam na zebra, outros no porco, outros no veado. Não demorou para que tremulassem, em protesto, algumas bandeiras multicoloridas em nome do Orgulho Gay. Quem furtara a prova? O que se faria com o culpado? Seria expulso? Excomungado? Qual era o verdadeiro gabarito? Afinal, lá pelas tantas, eram tantas as opções que mais fácil seria acertar os números da mega-sena. O assunto passou a invadir não apenas o recreio, mas todas as aulas. Física, Matemática, Biologia, Filosofia... É, nem aquele professor “mão-de-ferro” conseguia segurar a gurizada. Mais parecia uma “Primavera Árabe”. Verdadeira turba enlouquecida atrás do pretenso gabarito. Até o típico bate-bola da Educação Física passou despercebido. Não fosse aquele guri – acostumado a ser deixado de lado na formação das equipes em dia normal de aula – a brincar, desajeitado, com a bola, as quadras mais pareceriam um Saara. Todos queriam era a dita Prova. Passou a ser uma questão de honra, de brios. Teriam alguns, dizem que da vinte e dois, feito uma “vaquinha” para pagar uma tiazinha metida a botar cartas. Não se sabe ao certo se o interesse era, de fato, no “além” ou nas curvas libidinosas da moça enfiada em trajes um tanto que escassos.  Já a turma vinte e um, mais afeita à filosofia da Escola, apelara para o pároco local. Tentativa estéril. O padre só queria saber de cantar: “Jesus Cristo, Jesus Cisto, eu estou aqui...”. O que era para ser um simples desafio, logo se tornou em desespero. A vinte e três até que tentou. Um grupo de guris da turma até aula “matou”, enfurnando-se num beco. Ali, como numa sociedade secreta, fizeram uma roda. Não se sabe como, mas logo surgiu um copo que foi posto no centro daquela espécie de mandala. Unissonamente, fecharam os olhos e passaram a entoar cânticos pouco inteligíveis. Nada do copo se mover. Frustrados, tiveram que retornar para a Escola, tendo ainda que arrumar uma bela desculpa para ingressarem fora do horário estabelecido. O tempo passava. Os ponteiros do relógio avançavam a passos largos em direção ao final de mais uma manhã, de mais um dia. A Prova se aproximava, como que fera a espreitar a vítima. Finalmente, o dia da tão temida avaliação de Geografia. Mal o professor colocara os pés na sala, a inevitável pergunta: estaria a Prova disponível na internet ? O professor, com ar de surpresa, por fim acabou com o mistério. Tudo não havia passado de um grande mal entendido. A dita Prova não passava, na verdade, de um texto postado num blog. Desfeita a confusão, o mestre procurou mostrar à gurizada que a solução para os desafios a serem enfrentados na vida encontra-se, sobretudo, no interior de cada um. Uma Prova não passa, no fundo, de um papel que hoje é rabiscado, preenchido, corrigido... Depois vai para o lixo. Na melhor das hipóteses, será reciclado. O que conta – seguiu o professor –, vai muito além de uma Prova. Vale é o que fica. O que permanece são os valores apreendidos por detrás de cada conteúdo, riquezas que permeiam e tangenciam todos os componentes curriculares. Devemos dar sentido às coisas. Quisera o pobre professor encontrar, mais adiante, cada um daqueles educandos sendo, quem sabe, médicos, advogados, professores, técnicos, comerciantes, patrões ou empregados... Antes, porém, verdadeiros homens e mulheres de bem, impregnados de bondade, solidariedade, compromisso com a verdade, amor ao próximo, alteridade, cumplicidade com os que buscam e promovem a paz. Dito isso, a Prova fora aplicada. No canto da sala, o Rudi puxava por sob a classe a folha com o pretenso gabarito das questões...    


sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O Consumo de Álcool por Crianças e Adolescentes

O CONSUMO DE ÁLCOOL POR CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Prof. Gilvan Teixeira



                No último dia 25, a Rede de Escolas São Francisco – representada pelo Professor Gilvan Teixeira – participou de um evento organizado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP), com enfoque no consumo de álcool por crianças e adolescentes. Um problema que vem se intensificando pela venda irresponsável por parte de alguns comerciantes, pela propaganda midiática que associa o consumo de álcool ao sucesso, bem como pela ausência de um acompanhamento mais incisivo por parte da família. O consumo de álcool por menores, sabe-se, é a porta de entrada para outras drogas. A licitude de seu uso, associada à falsa idéia de que suas consequências são menos trágicas do que a de outras substâncias contribui sobremaneira para o alargamento dessa chaga social.

                Ante o exposto, decidiu-se pela criação de um Fórum Permanente, com a participação não apenas do MP, mas de outras esferas do Poder Público, escolas públicas e privadas, empresas ligadas à promoção de eventos voltados a menores, comerciantes, entre outros. Algumas iniciativas, apesar de aparentemente pequenas, vem corroborando a intenção de abolir por completo o consumo de álcool por crianças e adolescentes. A Associação de Pais e Mestres do Colégio Rosário, por exemplo, há muito aboliu o álcool de todo e qualquer evento envolvendo seus educandos. A Rede de Escolas São Francisco, vale lembrar, há anos substituiu o vinho por suco de uva no preparo do quentão servido na Festa Junina. Além disso, eventos de formatura envolvendo alunos da Rede, mesmo que não organizados pela instituição, são previamente informados ao MP, Brigada Militar e Conselho Tutelar, objetivando prevenir – entre outros – o consumo de álcool por crianças e adolescentes. Contudo, não basta as instituições de ensino fazerem sua parte. Os pais devem fazer a sua. É necessário que primem pela orientação, fiscalização e imposição de limites bem claros aos filhos. Cabe à família exercer o primeiro “controle social”. Ao Estado incumbe a importante tarefa de coibir a venda ilegal de álcool a menores, punindo com rigor aqueles que descumprem o ordenamento jurídico. A formação das novas gerações é, por certo, responsabilidade de todos.  

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