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domingo, 25 de setembro de 2011

Educação Libertadora

O texto abaixo data de 2007 e foi escrito com o olhar voltado às escolas públicas municipais (Cachoeirinha):


EDUCAÇÃO LIBERTADORA
Gilvan Teixeira



            A Escola há muito vem sofrendo inúmeras críticas por parte daqueles que acreditam ser a mesma uma instituição fracassada, assim como a família, os partidos políticos, a igreja e, por que não dizer, o próprio Estado. Fracassada porque, segundo eles, não consegue ensinar, produzindo verdadeiras levas de seres boçais, destituídos da capacidade de interpretação e de raciocínio lógico, incapazes de produzirem uma dezena de linhas num texto que tenha nexo e que não esteja eivado de crassos erros ortográficos ou que seja inteligível em sua grafia. Não bastasse isso – seguem eles -, a Escola tem deixado de servir de freio ao ímpeto de mancebos indisciplinados, grassando nos pátios, corredores e salas das instituições, públicas e privadas, verdadeira balbúrdia,  onde o professor hora é visto como “vítima esforçada”, hora como verdadeiro incompetente, quando não como algoz e ditador. Constrói-se e mostra-se uma cena, no mínimo, dantesca, onde imagina-se hordas de jovens mimados e sem limites a aterrorizarem seus mestres. As críticas não param por aí. Acusa-se a Escola de ser incapaz de mobilizar a comunidade, de pecar no diálogo com os pais, de agir como meliante a mendigar migalhas às vésperas de passeios e datas comemorativas. Ilustrando o cenário, os agoureiros trazem à luz (às trevas...) pesquisas e dados, muitos deles oficiais, que corroboram a imagem de uma Escola que não forma, mas deforma a geração hodierna. As médias mostram-se baixíssimas, pífias, envergonhando a todos. Ninguém escapa: diretores, supervisores, orientadores, professores, alunos, assessores pedagógicos das secretarias de educação (em todas as esferas), pais, alunos. Nesta hora parece que a “tia” da merenda ou o “tio” do portão são os únicos que escapam das saraivadas. O problema aparenta passar longe deles. Que nada! Logo vem um que outro teórico da educação para lembrar que eles também fazem parte da “engrenagem”. Não sobra pedra sobre pedra. O Legislativo não presta porque não cria leis que, de forma miraculosa, resolvam todos os problemas. O Executivo, por sua vez, perde seu tempo em lamúrias e esquivas como que a eximir-se de suas obrigações. Hora culpa o “orçamento” apertado, hora joga a culpa sobre o cenário internacional. O Judiciário... Que Judiciário? Enfim, está tudo perdido ! – afirmam os pessimistas de plantão.

            Temos problemas? Certamente! A Escola, hoje, passa incólume por eles? Por certo que não. Nem hoje e nem ontem. O que vemos atualmente, isto sim, são problemas  quiçá diferentes dos de outrora, pois que o processo histórico não pára, produz muitas vezes situações díspares de uma geração para outra. Temos que admitir, é claro, que as dificuldades crescem à medida que a “plebe” aumenta, que os centros urbanos incham. Contudo, vale lembrar, crescem também as possibilidades. Estas se multiplicam à medida que a capacidade criativa do homem se amplia. A Escola faz parte de tudo isso. Mais do que nunca ela precisa ser um (“o”) centro fomentador da auto-estima do ser humano, uma “arena” onde as idéias e opiniões devem se digladiar, não no intuito de sobrepor-se uma às outras, mas no sentido de amalgamarem-se de tal sorte que saia ganhando o coletivo. Mister é que se resgate e se reforce o papel da autoridade, esta personificada na “pessoa” do Estado (“latu-sensu”), do diretor, do professor, do pai. Autoridade pautada no respeito e na alteridade, jamais no arbítrio e no medo. É preciso resgatar e reforçar a auto-estima do educando, incentivar a pesquisa, valorizar suas virtudes e corrigi-lo com firmeza sempre que necessário. Ouvi-lo, respeitá-lo. Ser paciente e não permissivo frente aos equívocos tão comuns em tenra idade (como se nossas cãs nos livrassem de erros e devaneios...). Todos precisam assumir responsabilidades na árdua tarefa de dar à Escola a função que lhe cabe. O Estado tem a obrigação constitucional de zelar pela Escola de qualidade, criando condições físicas e humanas para tal. Isso passa, por exemplo, pela valorização profissional dos servidores da educação. Estes, por sua vez, precisam abandonar a condição de meras “vítimas”, passando a investir naquela “carreira” que escolheram. Práticas pedagógicas irresponsáveis e cômodas precisam ser revistas, mesmo que para isso tenhamos que “desacomodar”. Vícios individuais e coletivos tão conhecidos precisam ser questionados. Aparentes “privilégios” que separam os “mestres” de seus discípulos (e da comunidade como um todo) precisam ser repensados. Os genitores – mesmo que apenas “legais” –precisam “viver” a Escola, se fazer presentes na construção da Proposta Político-Pedagógica, do Regimento, da Avaliação. O Conselho Escolar não pode seguir a reboque da Direção, pois que autônomo. Não um Conselho de fachada, mas atuante e participativo, pronto a criticar e a debruçar-se sobre suas próprias feridas, não para lambê-las, mas para curá-las. A Escola tem jeito sim. Apostar nela é acreditar no próprio homem. É vislumbrar a possibilidade de construirmos uma sociedade menos violenta e mais fraterna, uma sociedade onde as oportunidades surjam para muitos. Valorizá-la é investir na utopia de um mundo melhor. Denegri-la é pôr em risco não só o presente, mas sobretudo os dias vindouros, é fechar as portas (já poucas...) sobretudo àqueles que – apesar da pobreza de recursos – ainda guardam no fundo do olhar o brilho dos crédulos, dos que acreditam num amanhã melhor. 
        

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