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quinta-feira, 26 de agosto de 2021

A VIOLÊNCIA VIRTUAL

                                                                 A Violência Virtual 

A Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021 tem como tema: "Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor". Esse tema me faz pensar muito sobre as redes sociais, mais especificamente sobre a falta de comunicação nas redes e fora delas. "Compromisso de amor". A escolha da palavra "compromisso" me faz refletir sobre a responsabilidade que temos que ter com o uso das nossas palavras, até porque isso faz toda a diferença em um diálogo. As vezes nas redes sociais nós falamos, falamos e falamos, enquanto pessoalmente não fazemos nada sobre o assunto. Acabamos passando uma ideia de que as coisas são fáceis, de que nossas vidas são perfeitas e que pode ser fácil lidar e discutir sobre algumas coisas. E a verdade é que não é nada fácil. Quantas vezes você já não viu pessoas nas redes sociais tachando suas vidas como perfeitas? Ou então aquela vez que você viu uma pessoa julgar a outra só porque a vida dela é "mais fácil"? Ou o mais comum ainda: quantas vezes já não viu as pessoas julgando as outras, e para piorar, pessoas que nem sequer conhecem? tenho certeza de que você já se deparou com isso mais de uma vez. E sim, tudo isso tem a ver com diálogo. As pessoas simplesmente não sabem dialogar, e a verdade é que elas não se importam com isso. Se as pessoas soubessem usar as palavras da forma correta, não haveria tantas discussões desnecessárias, tantos julgamentos e imaturidade. Toda essa confusão acaba levando ao machismo, desrespeito com pessoas LGBTQIA+, racismo, xenofobia, kink shaming e outras coisas horríveis que não são e nunca serão justificáveis. Talvez algumas pessoas não entendam o porquê de isso ter qualquer relação com a campanha da fraternidade, mas têm vários motivos para falarmos sobre a violência virtual (e não só virtual) quando estamos falando sobre diálogo. As pessoas não dão a mínima para as palavras que elas usam, ainda mais virtualmente, já que elas sabem que provavelmente não vão sofrer consequências por causa de seus atos ignorantes. As pessoas precisam aprender que não é só porque elas podem falar algo sobre uma coisa, que significa que elas devem fazer isso. Dar uma opinião sobre um assunto e ser desrespeitoso e intolerante ão coisas completamente diferentes.  

Contardo Luigi Calligaris, um renomado escritor, psicanalista e dramaturgo italiano radicado no Brasil, fala um pouco sua opinião sobre a violência virtual e a intolerância nas redes sociais:  

"Nas redes sociais, é possível expressar o seu ódio, dar a ele uma dimensão pública, receber aplausos pelos seus amigos e seguidores, e se sentir de alguma coisa validado. Ou seja, as redes sociais produzem uma espécie de validação do seu ódio que era muito mais difícil antes de elas existirem e se tornarem tão importantes na vida das pessoas. Isso não tem remédio porque não podemos voltar atrás, e essa é certamente a parte menos interessante das redes sociais, que em contrapartida têm efeitos sociais muito positivos. É uma coisa um pouco ridícula ouvir isso de um psicanalista, mas eu acho que o discurso de ódio nas redes sociais é algo que deveria ser perseguido, deveríamos ter limites claros ao que é o campo da liberdade de expressão, que é intocável, e o momento em que aquilo se torna uma ameaça e deveria receber imediatamente a atenção da polícia e do Judiciário." 

A violência virtual afeta as pessoas mais do que muitos pensam, muitas vezes causando problemas psicológicos nas vítimas. O hospital Santa Mônica falou um pouco sobre a relação da depressão e do cyberbullying em seu site: "Agora, o que muitos não imaginam é que o bullying e o cyberbullying podem estimular significativamente os quadros de mutilação corporal entre os jovens, e nos casos mais intensos, resultar em suicídio. Para se ter uma ideia, em 2016 a Safernet, uma organização não governamental (ONG), recebeu diversas denúncias de crimes que ocorreram no campo virtual. Dessas acusações, 39,4 mil páginas da internet — entre sites, blogs e publicações nas redes sociais — foram denunciadas por violar os direitos humanos. Nesses conteúdos, foi possível identificar comentários racistas, intimidadores e com incitação à violência. É exatamente aí onde mora o perigo: muitas vezes o cyberbullying passa despercebido pelos adultos. Com isso, os jovens e as vítimas desses crimes se sentem infelizes, os níveis de estresse aumentam e a violência pode acabar provocando depressão profunda. Sem saída e com dificuldades para encontrar uma solução para o problema, o indivíduo acredita que, ao tirar a própria vida, o transtorno acaba." 

Não está tudo bem em sair comentando qualquer coisa e sobre qualquer coisa só porque você sabe que ninguém vai te impedir. Não está tudo bem em ser uma pessoa intolerante. Não está tudo bem em fazer comentários ignorantes e infelizes sobre pessoas e assuntos que muitas vezes você nem tem conhecimento sobre. Não está tudo bem em normalizar essa "liberdade de expressão" se nela também se encaixa essa infelicidade e esse ódio gratuito da sociedade hipócrita em que vivemos. Toda essa intolerância e violência virtual é pura covardia, e nunca deve nem tentar ser justificada.  

"A violência não é força, mas fraqueza, nem nunca poderá ser criadora de coisa alguma, apenas destruidora." 

  - Benedetto Croce 

Thaíse Stecker

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